(Há algum tempo atrás, António Costa, numa entrevista a um órgão nacional de comunicação social, resguardava-se numa acusação de que uma grande parte das críticas à governação provinha de uma espécie de bolha mediática, construída em função de agendas inconfessáveis. Dizia o Primeiro-Ministro nessa entrevista que a grande maioria da sociedade portuguesa passava ao lado e era indiferente a tal bolha. Mal sabia António Costa que a figura de estilo ou metáfora da bolha haveria de voltar-se contra si próprio. Os mais recentes desenvolvimentos em torno da mistura explosiva, Galamba, assessor próximo, elementos do seu Gabinete, recurso ao SIS e outros desenvolvimentos que venham a manifestar-se, mostram-nos, eloquentemente, que já não se trata de uma bolha mediática, mas de uma bolha emergida a partir do próprio Governo e periféricos. Uma bolha que, respeitando a metáfora, representa uma forma extrema de isolamento de uma classe política jovem e que aprendeu nas malhas do poder que revela face à ideia de serviço público e de resposta perante cidadãos eleitores uma mais completa estranheza. Sim, uma bolha que, para manter as metáforas, um dia destes terá que rebentar para preservação da saúde do organismo em que foi criada.
É óbvio que, neste último caso de despautério governativo, novamente com a classe política mais jovem envolvida, revelando que de rejuvenescimento político estamos aviados, não podemos ignorar que o assessor de Galamba, Frederico Pinheiro (que para mal dos meus pecados aparece também ligado ao SLB) tem aquele toque de picante político que a mediatização sempre procura. O dito cujo tem filiação aparente naquela zona nebulosa entre um PS mais radical e um Bloco de Esquerda interessado em explorar essa nebulosidade, trabalhou ativamente com Pedro Nuno Santos quando ele exerceu funções de articulação com o Parlamento e, por isso, a sua zanga, com tons picarescos à mistura, tem tudo para se revelar um folhetim de grandes proporções, que um bom contador de histórias pode perfeitamente transformar numa epopeia de velhas contradições associadas à sucessão de Costa e à clarificação do pensamento político do PS.
Como é óbvio não tenho qualquer informação que me permita ir além do que vem sendo noticiado e nem me interessa averiguar se Galamba tem ou não razão, sobretudo porque a fragilização da sua ação política está já hoje instalada e sem regresso.
Mas o caso tem interesse, pois equivale ao ricochete da metáfora da bolha utilizada por António Costa. Esta já não uma bolha mediática, mas antes uma bolha que nasceu das camadas mais jovens da ação política (aprendendo praticando) e que se traduz pela construção de mundos próprios, com isolamento profundo face à sociedade e tecidos apenas pelas teias de preservação do poder custe o que custar. E uma vez mais construo para mim a ideia de que se é este o rejuvenescimento da classe política de que estaríamos à espera então estamos perfeitamente aviados. Não por acaso, figuras de senadores como Carlos César vêm a terreiro mostrar o que já é evidente, mostrando que se é este o rejuvenescimento que estamos a construir então estamos aviados.
Não há bolha que não rebente e a saúde dos tecidos assim o exige. Mas como sabemos há vários modelos de rebentamento de bolhas. Essa é a minha interrogação. Que cicatrização irá acontecer?
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