quarta-feira, 31 de maio de 2023

OS MISTÉRIOS DE MONTENEGRO

 


(Curiosamente, prestes a entrar num giro rápido por terras da Croácia e Eslovénia, o título da crónica de hoje poderia representar uma tentativa de antecipar algumas interrogações sobre um dos países, Montenegro, que nasceu da trágica fratura do modelo jugoslavo. Mas não, os ministérios de Montenegro, a que aludo no título, são simplesmente inspirados na estranha forma de apresentação política de Luís Montenegro, à frente do PSD, algo que está na linha também da minha perplexidade que associei ao desconchavo, objeto de uma crónica específica. Quando me confronto com a minha própria perplexidade sobre esta matéria, mais se me enraíza a ideia de que paira no ar alguma inteligência orgânica da direita que tem feito todos os possíveis e impossíveis para orientar o PSD como de uma marionete se tratasse, mas sempre em busca de um melhor intérprete ou títere. E pelo ar político que se vai respirando, percebe-se que esta não será ainda a escolha definitiva ou então Luís Montenegro é possuidor de uma técnica de dissimulação política ou de vitimização que me ultrapassa totalmente e que exigiria análise mais profunda.

Depois de Cavaco Silva ter regressado à terra e elogiado a preparação de Montenegro em termos tais que alguns analistas viram nisso uma espécie de beijo de morte, vimos logo em seguida a estranha decisão do antigo Presidente da Câmara de Espinho, no passado unha com carne com Montenegro, decidir ao fim de dois meses interromper a suspensão do seu mandato na Assembleia pelo facto de ser arguido numas tramoias de trazer por casa em matéria urbanística. Não tendo desaparecido o estatuto de arguido, a decisão de Moreira é super-estranha e é-o muito mais por não ter dado “cavaco” a Montenegro. Este naturalmente reagiu retirando a confiança política ao deputado espinhense e com isso mais um facto político favorável ao acossado governo de António Costa foi acrescentado à cena mediática.

Preparação cénica que atingiu o grau máximo da estranheza quando, em conversa com os jornalistas, Montenegro desvalorizou a hipótese de uma derrota por poucos pontos percentuais nas próximas eleições europeias, utilizando tal argumento para afirmar que nesse caso não se demitiria do partido.

Já não jogo à cabra-cega há muito tempo, mas fiquei totalmente desorientado com este golpe de improviso de Montenegro, adensando os mistérios em seu redor. Não me apercebi que qualquer sondagem por mais especulativa que fosse tenha sido divulgado e, por isso, apetece perguntar por que raio Montenegro haveria de falar numa possível derrota por poucos pontos percentuais.

Entretanto, noutro plano totalmente diferente, João Miguel Tavares, que pode ser desbocado, mas que não é definitivamente burro ou destituído de intuição política, retoma o tema das Sete Vidas de António Costa. Obviamente que não me atravesso dizendo que as trapalhadas do Governo tenham terminado. Mas se JMT fala já de sete vidas, ele está simplesmente a fazer uma leitura política da onda política de contestação ao governo, agora que a praia mesmo húmida e ventosa começa a inspirar o imaginário próximo dos Portugueses. Com a inflação em desaceleração, é só fazer contas.

Quanto aos mistérios de Montenegro temos de os transformar em charada política para a tentarmos resolver com uma bebida fresca na mão e provavelmente procurando a proteção de uma barreira contra o vento de nortada.

Nota complementar:

Hoje à noite, na Casa da Música, para fechar maio, vou revisitar a poesia cantada de Adriana Calcanhoto, de novo recuperados das trevas bolsonarianas, mesmo com um aflito Lula para encontrar o seu caminho.

 

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