sábado, 13 de maio de 2023

POLÍTICA INDUSTRIAL PURA E DURA

 

(À medida que os grandes números de investimento e de incentivos associados ao Inflation Reduction Act (IRA) relativo à economia verde e ao CHIPS Act relativo à microeletrónica e processadores em geral lançados pela administração Biden vão sendo conhecidos, começamos a compreender a magnitude da iniciativa americana. Tal como no contexto da Segunda Guerra Mundial foi o grande esforço logístico e de coordenação de investimentos que colocou os EUA na Guerra de modo vitorioso, também agora se compreende que não estamos a falar de simples semântica e que uma política industrial à antiga, pura e dura, de grandes proporções e ambição está em curso. Por estranho que pareça, sugerindo as grandes fragilidades da recandidatura de Biden, a grande maioria da dinâmica de investimento em curso passa por Estados de dominância política republicana. Faites vos jeux sobre o que tudo pode significar para as próximas presidenciais americanas.)

Os números publicados até agora desfazem qualquer suspeição se a administração Biden anda a brincar à semântica da política industrial.

Estamos a falar de 200 mil milhões de investimento em tecnologias limpas e em semicondutores, o que é uma barbaridade, esperando-se que ao longo do ano de 2023 será atingido esse valor. As renováveis e as redes de energia dominam os efeitos induzidos de investimento proporcionados pelos incentivos do IRA, tal como pode ser antecipado a partir da estimativa da Goldman Sachs.

Os incentivos assegurados pelos apoios do IRA são consideráveis como pode ser observado a partir do gráfico abaixo, com relevo para a captura e armazenamento de carbono e para o hidrogénio verde e compreende-se, por isso, o seu efeito direto e induzido no investimento.


É importante ter em conta que os incentivos do IRA acontecem num período particularmente favorável, pois eles são lançados já com uma apreciável redução de custos das tecnologias-chave para a revolução verde.


Como é óbvio a União Europeia e a Alemanha não estão fora deste processo, como se pode perceber de objetivos quantificados em diferentes documentos oficiais, que apontam para 270 mil milhões de dólares na primeira e 80% de renováveis na Alemanha. No entanto, quando pensamos no poder logístico e de coordenação desta magnitude de recursos, a relação de forças pende para a economia americana e isso constitui uma ameaça séria para a antecipação de futuro que a Europa poderá assegurar para si própria.

Aliás, quando se analisa a nova capacidade de investimento antecipada para o período 2021-2025 em matéria de semicondutores, ver gráfico abaixo, percebe-se o realismo da ameaça.

Surpreendentemente, toda esta dinâmica de investimento apoiado está a ser concretizada em estados com os republicanos na liderança, com destaque para o Texas.

Aparentemente, quando se analisa com mais atenção o discurso das autoridades europeias, depreende-se que “no pasa nada”. Que profunda ingenuidade. Mas a questão mais incómoda é esta: como é que os diretórios europeus que andaram a vender a morte da política industrial poderão agora renegar o erro do passado e convictamente estruturar uma Missão europeia de proporções similares à americana. Não cola, pois não?

Nota final

No Science Is Strategic

 

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