(Vítor Bento é daquelas personagens cuja notoriedade entre a tribo dos economistas é claramente desproporcionada face à qualidade e diversidade da sua obra, mas não está de modo algum sozinho nessa posição. Francisco Louçã refere-se, cheio de razão, no último Expresso Economia, a uma entrevista dada por Bento, na qualidade de Presidente da Associação Nacional de Bancos, que veio tapar-nos os olhos com um protetor mal-amanhado. Veio Bento clamar que o facto dos bancos estarem hoje a remunerar depósitos a taxas bem abaixo das remunerações de referência impostas pela política monetária restritiva é simplesmente a consequência do mercado estar a funcionar. Se Bento é beato não sei nem me interessa, mas que tem uma grande lata não há dúvida que tem. Retomo argumentação já exposta em posts anteriores para não deixar passar este insulto à nossa inteligência e a um mínimo de informação sobre o que se está a passar no sistema bancário com maior notoriedade nos EUA, mas reflexo de uma situação que Bento tinha obrigação de mencionar – a política monetária restritiva está a provocar problemas nos balanços dos bancos, perturbando o seu equilíbrio e lançando-os nessa procura de desvios favoráveis entre taxas de juro de referência e remunerações dos depósitos..
O Professor Jonathan Parker, bem mais letrado economicamente falando do que Bento e Professor no MIT, tem demonstrado duas coisas importantes: primeiro, os ganhos que os bancos conseguem com esse desvio positivo entre os juros de referência e as taxas que remuneram depósitos é aproximadamente igual à perda de valor dos seus ativos induzida pela subida das taxas de juro de referência; segundo, as dificuldades sentidas pelos bancos com a acomodação difícil à nova política monetária são uma forma indireta dos bancos centrais conseguirem que o aumento das taxas de juro arrefeça os impulsos inflacionários das economias, já que forçando-os a refrear crédito estão a concretizar os propósitos de restrição da atividade económica.
Por isso, ninguém tem ouvido os Bancos Centrais insurgirem-se contra o injusto diferencial penalizador para os depositantes, o que não tem nada que ver com a “boutade” de Bento quando ele nos diz que é simplesmente o mercado a funcionar.
Claro que os Portugueses minimamente precavidos têm optado pela escapatória possível, recorrem aos certificados de aforro e borrifam-se para a esperteza saloia do talvez beato, mas descarado Bento.
Louça espraia-se por outro tipo de argumentos, está no seu direito, mas em meu entender a questão é tão simples como isto – a política monetária restritiva não está a ser bem contada.
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