sábado, 27 de maio de 2023

UM SAMBA COM CHICO E MÔNICA

Foi um Chico Buarque discreto como sempre mas afetuoso e simpático que brilhou ontem à noite no “Rosa Mota”. À beira de completar 79 anos, Chico ainda se apresenta em boa forma (apesar de alguns sinais de pequenas maleitas) e mantem intacta a beleza rara daquela sua fascinante voz. Acompanhado por um naipe de músicos de excelência (Luis Claudio Ramos nos arranjos, guitarra e violão, João Rebouças ao piano, Bia Paes Leme nos teclados e vocais, Chico Batera na percussão, Jorge Helder no baixo acústico e elétrico, Marcelo Bernardes nos sopros e Jurim Moreira na bateria) e por uma convidada especial ― a magnífica Mônica Salmaso (de quem sou fã incondicional desde os meus tempos de maior permanência brasileira, lembro a obra-prima que é “Voadeira”) que o completa à perfeição ―, Chico chamou ao espetáculo “Que tal um samba?”, título do seu mais recente single em que privilegia a esperança e explicita o objetivo de “espantar o tempo feio” de Bolsonaro: “depois de tanta derrota, depois de tanta demência e uma dor filha da puta”. Ao que acrescentou alguma revolta em relação aos insultos que circulam nas redes sociais sobre a autoria dos seus trabalhos. Mais de trinta temas em quase duas horas de show, no qual não deixou de valorizar algumas canções menos conhecidas do seu reportório mas sempre foi passeando também, algo impercetivelmente, por vários símbolos da sua já longa e extraordinária obra; da qual ressalta o “eu feminino” das letras e a originalidade de composição que ajudou a fazer dele “um dos grandes vultos da cultura brasileira” ― como se escrevia há dias no “Expresso”, “se só tivesse escrito ‘Construção’, ou ‘Cotidiano’, retrato do mesmo disco sobre o amor que corta o travo amargo do dia a dia, com boca de hortelã, Chico Buarque já poderia ser considerado um génio”. Por fim, e como era obrigatório, a noite não terminaria em beleza se Chico e Mônica não tivessem entoado, num dos seus quatro encores, aquela inspirada canção (“Tanto Mar”) que envia um abraço ao Portugal libertado pelo 25 de Abril.

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