A necessidade de uma deslocação profissional a Évora fez com que pudesse ter ocupado boa parte da viagem a ouvir a audição, hoje acontecida, de Diogo Lacerda Machado (DLM) na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP. Acabou por se tratar de uma opção extremamente útil para a minha melhor compreensão de uma personagem relativamente misteriosa, das verdadeiras essências do dossiê e de alguns contornos factuais do já longo historial por que se desdobrou o processo.
Para início de conversa, direi apenas que se tratou da presença de maior qualidade a que já assisti em sede parlamentar, seja pela atitude e forma, seja pelo discurso e substância, seja pela precisão, pedagogia, racionalidade e concatenação da narrativa e dos argumentos. Não desconheço que DLM tem interesses muito próprios em vários tópicos que ali foram abordados, quer no plano pessoal, profissional e financeiro quer no plano político e relacional, mas tenho de admitir que a preparação por ele feita (incluindo o rigor das datas e das conversas relatadas) e a estratégia de posicionamento por ele adotada foram da maior eficácia e roçaram um resultado de cabal convencimento.
Claro que não faltarão os que me contraponham quanto estarei a ser naif e quanto quase sempre as melhores manifestações de competência provêm dos maiores tratantes, o que aceito e simplesmente não quero contrariar de volta; prefiro deixar correr o tempo e os factos para refinar a minha leitura. Em qualquer caso, o que insisto em afirmar é que DLM foi o primeiro auditado que vi conseguir encostar Mariana Mortágua às boxes, foi o articulado autor de uma leitura elaborada e integrada (mesmo que contestável, mas não muito facilmente) e foi o amigo de António Costa de que este tanto necessita mas de há muito não lhe aparecia publicamente. Vale o que vale, dir-se-á, mas acho que valeu pelo menos o suficiente para que ficassem colocadas restrições sérias à pobreza dos olhares oficializados sobre os caminhos da TAP e à factualidade e esquematismo das questões associadas à sua privatização e renacionalização nos últimos tempos de Passos e nos primeiros de Costa.
Uma nota final para referir que foi com espanto que ouvi a abertura do “Jornal da Noite” a eleger como síntese da audição a ideia de que “Machado não percebe 55 milhões € pagos a Neeleman”, uma interpretação falsa e demasiado rudimentar do que realmente ali se passou e uma interpretação que vi entretanto repetida por outros órgãos de comunicação social, assim sendo bem ilustrativa da desqualificação e desfocagem (já não falando de uma possível prevalência de má fé...) da maioria dos jornalistas dedicados ao tema.
Sem comentários:
Enviar um comentário