quinta-feira, 18 de maio de 2023

WHEN I’M SEVENTY-FOUR

 


(Quando Lennon e McCartney escreveram a popular “When I get older losing my hair”, creio que o significado de ter 64 anos era diferente do que hoje a perceção social e pessoal nos oferece, pelo que me senti autorizado a substituir os 64 pelos 74 e assim assinalar a efeméride de mais um ano que passa. A trabalhar e a escrever é o meu lema para adiar o inevitável que a biologia nos traz, algum exercício físico, bastante menos do que o seria necessário, escasseiam as oportunidades e essencialmente porque sou do tempo que exercício físico significa sempre ter uma bola para manejar com o pé, a mão ou uma raquete. Apesar disso, devo agradecer aos deuses, já que ainda não chegou o tempo do diário “dói-me o corpo, doem-me as articulações”, a família está boa e recomenda-se, trabalho não falta, impulso para a escrita também não escasseia, os Amigos e Amigas de sempre continuam, não todos mas uma grande parte, por cá e assim vai a vida.)

Nestas alturas e efemérides deste tipo, o tema do idadismo, prefiro envelhecimento, emerge e gente como Eduardo Paz Ferreira vem a terreiro esgrimir argumentos, reivindicando que a sociedade portuguesa em geral e a administração pública em particular deveriam organizar-se melhor para integrar o fenómeno da continuidade ativa, independentemente dos números do calendário.

Tendo completado esquemas de reforma e continuado a trabalhar nos termos que a lei me permite, e continuando a contribuir com descontos para a segurança social que me vão atualizando paulatinamente a reforma, encontrei a minha via pessoal para abordar pela positiva o idadismo. Mas tenho perspetivas ambivalentes sobre o tema. E dedico a essa ambivalência o tema do post de hoje.

Em primeiro lugar, tal como já o referi em posts anteriores, lendo de relance e sem grande pachorra o que vai sendo dito na inenarrável Comissão de Inquérito, não posso deixar de pensar que se este fosse o padrão do rejuvenescimento da sociedade portuguesa estaríamos bem aviados. Todos os personagens, bons e maus malandros, galdérias de gabinete e mais aves canoras que intervieram no processo não são gente grisalha, mas jovens ambiciosos, impetuosos e não sei mais quê. Por isso, pelo menos no que respeita à classe política, se esta é a substituição que nos espera, o cenário é um pouco aterrador.

Por outro lado, pensando na crescente qualificação da população portuguesa, sou dos que penso que essa maior qualificação não pode permanecer truncada e bloqueada no acesso à capacidade de decisão. O problema não é apenas a questão da remuneração quando confrontada com padrões europeus, ou a inexistência de oportunidades de emprego. Quanto à primeira questão, enquanto os desvios de desenvolvimento permanecerem elevados na União Europeia, essa será sempre uma ameaça. As nossas melhores qualificações serão sempre apetecíveis para o exterior. Mas o problema não é apenas esse. É que muito provavelmente, e isso não está devidamente estudado, os que ficam e estão inseridos em organizações públicas ou privadas permanecem bloqueados no acesso à tomada de decisão, porque os mais velhos e nem sempre necessariamente os mais competentes e capazes dominam essas condições de acesso. Portugal está cheio de “senadores” que entopem e atrapalham processos. Certamente que haverá por aí os Adrianos Moreiras que dá vontade de seguir e acompanhar, mas por cada AM haverá imensos empatas, que estão a dificultar a transmissão do potencial da melhoria de qualificações em melhorias de âmbito mais global.

Pela minha parte, os malefícios do preconceito do idadismo combatem-se no dia a dia, prosseguindo a continuidade dos nossos contributos, mas não empatando a evolução normal materializada na ideia de que os últimos a chegar são potencialmente mais qualificados do que os que já lá estão e cujo direito ao erro é também sagrado, tal como o foi para nós, que errámos e aprendemos com isso.

 

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