(Anuncia-me a VOZ DE GALICIA, pela pena do jornalista Rubén Santamaría (1), que esta quarta-feira o Professor Fernando González Laxe, catedrático de Economia Aplicada na Universidade da Corunha, dará a sua última aula naquela Universidade, pretexto para uma entrevista aquele jornal. Como não terei possibilidade de assistir à referida aula aberta, aproveito a oportunidade para registar neste blogue a experiência de contacto e de diálogo académico e profissional com o Professor Laxe, desde os tempos em que foi Presidente da Xunta da Galiza e sobretudo no âmbito de diferentes trabalhos para a Associação de Cidades do Eixo Atlântico.
Lançado na via académica pelo velho Professor Xosé Manuel Beiras, ao qual Laxe expressa o reconhecimento da confiança que então lhe foi atribuída pelo incontornável Professor de Santiago de Compostela e do qual politicamente se afastou posteriormente, Laxe pelas bandas do PSOE e Beiras pelas bandas do radicalismo galego, González Laxe é um fiel intérprete da chamada economia estrutural. Essa filiação é importante para compreender o percurso académico, político e profissional de Laxe, mantendo sempre uma vigilância crítica sobre o desenvolvimento espanhol e galego em particular, oportunidade em torno do qual tivemos inúmeras charlas em reuniões e refeições animadas pelo Secretário Técnico do Eixo Atlântico, o sempre dinâmico Xoan Mao. Foi essa filiação na economia estrutural que Xosé Manuel Beiras introduziu na Universidade de Santiago que explicou que Laxe se transformasse num dos maiores especialistas da economia do mar e da economia das infraestruturas portuárias, sempre atento ao que os rumos da globalização iam determinando para aquele tipo de atividade, muito antes de conceitos como a economia azul e a descarbonização se terem imposto e impulsionado a investigação.
Na entrevista à VOZ, continua a pressentir-se a presença de um permanente espírito crítico. Tomei devida nota da sua resposta ao jornalista sobre a sua avaliação da formação universitária e da evolução do espírito crítico dos alunos. A sua resposta é muito clara quando refere que o mais que o preocupa é que “Não toquem nos livros. Tudo está na nuvem, dizem, pelo que perguntamos à nuvem. Mas se há livros de texto e de manuais é porque são muito reflexivos. Porque têm um método. Há que regressar aos livros. Que tocar os livros. E aí há um desencontro. Antes entravas numa casa, olhavas para as estantes e dizias: este senhor é engenheiro, médico, advogado, mecânico … Agora entras numa casa e não há um livro, há um ecrã de 60 polegadas. A todos os alunos que pretendem que eu oriente uma tese ou trabalho similar pergunto-lhes sempre o mesmo antes de aceitar: que romance estás a ler? De quem? Porque o aluno tem de saber primeiro captar a essência de um texto e depois valorar uma redação”.
Dir-me-ão alguns que são considerações nostálgicas de alguém que dá a sua última aula e que por cumplicidade etária estou aqui a reproduzir estas declarações. Não enjeito essa cumplicidade. Mas para mim as declarações revelam o espírito crítico e sereno de González Laxe e do qual espero que a sua sabedoria e pensamento continuem relevantes para a renovação do PSOE galego e do PSOE em geral.
Muito provavelmente não surgirão mais oportunidades de colaboração académica e profissional no âmbito do Eixo Atlântico e da cooperação Galiza-Norte de Portugal em geral e, por isso, talvez não surjam mais oportunidades de charlas e diálogos em torno de temas estruturais tão do apreço de González Laxe. Ficarão certamente alguns novos artigos na VOZ para reavivar lembranças.
(1) https://www.lavozdegalicia.es/noticia/galicia/2023/05/07/nuevos-universitarios-tocan-libro-me-preocupa-muchisimo/0003_202305G7P8993.htm
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