("New York City’s vacant office space could fill 26.6 Empire State Buildings")
(Edward L. Glaeser da Universidade de Harvard é um nome bastante conhecido nos temas da economia urbana e Carlo Ratti do Senseable City Lab no MIT é também um nome relevante das questões urbanas. Acabam de publicar no New York Times (1) um artigo-choque que avança com um número surpreendente – a área de escritórios desocupados em Nova Iorque é, segundo eles, equivalente a 26, 6 Empire State Buildings, um dos ícones da construção em altura daquela cidade. Sabendo que o ETB tem uma área de 2.800.118 de pés quadrados. Recordando que a equivalência é m2=ft2/10764, percebe-se a dimensão do problema. O que é curioso é que os autores inscrevem essa dimensão de espaço vazio de escritórios não ocupados num processo de transformação estrutural, em que a cidade que aparentemente nunca dormia se está a transformar numa cidade de lazer, alimentada pelos cada vez mais fortes fluxos de turismo que visitam aquele ícone da civilização urbana. De qualquer modo, a referida transformação não pode ser dissociada do fenómeno do teletrabalho ou do trabalho híbrido, que estão a colocar desafios importantes às cidades de serviços. E a influência não é linear. Uma grande parte da procura de escritórios em cidades como Nova Iorque resulta da procura de um ambiente de concentração de talentos, de ruído, de conhecimento tácito e simbólico que em atividades como a publicidade e outras atividades criativas é crucial. O que significa que essa procura tenderá a ser rebaixada em função da magnitude do referido vazio, acrescentando assim efeitos não lineares e cumulativos.)
O que Glaeser e Ratti nos anunciam é, afinal, a convicção de que a mudança estrutural urbana está ainda longe de estar em linha com a relevância da economia digital, sobretudo do ponto de vista de um planeamento urbano demasiado rígido e orientado para a criação de espaços muito especializados nas Cidades. Esse modelo de organização urbana está hoje com extrema dificuldade de adaptação aos desafios que a economia digital coloca aos comportamentos de deslocalização urbana, revolucionando o panorama das comutações diárias.
O que temos então é um processo de mudança estrutural urbana que conheceu no passado transformações também salientes, em função por exemplo da perda da relevância portuária da Cidade ou da queda da sua indústria transformadora. O artigo cita evidência semelhante para cidades como Chicago e Houston, mostrando que é algo que transcende Nova Iorque e que deve ser, por isso visto, como um sinal mais vasto de mudança estrutural urbana.
No âmbito do agora criado New York Panel por iniciativa do Mayor Eric Adams e da Governadora de Estado Kathy Hochul, os dois autores do artigo intervieram na produção do relatório, do qual destacam seis linhas de ação:
- · Revitalização multivariada e multidimensional dos centros urbanos com recursos à internet das coisas, big data e experimentação de políticas;
- · Combate sistemático à política de zonamento monofuncional;
- · Políticas inovadoras de reconversão de espaços vazios de escritórios noutras formas mais colaborativas de trabalho e de vivência, um desafio de enormes proporções dada a dimensão e tipologia dos gigantescos espaços vazios;
- · Animação de rua de grande escala;
- · Equilibrar as prioridades entre o comércio eletrónico e o comércio de proximidade;
- · Forte envolvimento dos cidadãos.
Uma palavra final em torno de uma presença mítica, que me surgiu renovada enquanto lia e preparava este post. É tempo de regressar à inspiração de Jane Jacobs. Seria um desafio a que a jornalista e depois académica, ativista e teorizadora da animação cívica urbana e suas implicações urbanísticas e arquitetónicas não desdenharia responder e no qual se envolveria com paixão determinada.
(1) https://www.nytimes.com/interactive/2023/05/10/opinion/nyc-office-vacancy-playground-city.html?campaign_id=29&emc=edit_up_20230511&instance_id=92309&nl=the-upshot®i_id=8217920&segment_id=132683&te=1&user_id=f486751ea0c181fa8bea39d35b156a6f
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