Apesar da expectativa positiva que aqui exprimi em torno de um possível afastamento de Erdoğan do poder na Turquia, a realidade dos votos e dos correspondentes números acabou por ser outra. Mesmo com a observância de algumas pequenas irregularidades, de que Borrell já veio solicitar correção, o certo é que o presidente revelou ter maior controlo do país relativamente ao que as sondagens e a oposição previam, quer por estarmos perante um homem carismático e ainda significativamente apreciado pelo seu povo (como quase sempre, a distribuição geográfica dos votos indicia uma origem maioritariamente rural dessa boa apreciação ― ver mapa abaixo) quer por estarmos perante um homem dominador e que tem gerido o exercício do seu poder com um enorme e eficaz pulso de ferro (o que as vinhetas acima exemplarmente resumem). E, portanto, o certo é que o mais certo venha a ser uma segunda volta (a 28 de maio) que acabe por confirmar a sua vitória e a correspondente inalterabilidade essencial (porque os resultados garantem claramente um menor conforto decisional em termos absolutos ― ver quadro abaixo) do status quopolítico que tem imperado na Turquia autoritária que Erdoğan lidera há mais de duas décadas. E, por consequência também, de diversos dos persistentes impasses e dificuldades de ordem geopolítica que necessariamente transitam por Ancara, da Ucrânia à Síria, de Chipre ao alargamento da NATO à Suécia, da vergonhosa situação dos refugiados e migrantes à igualmente vergonhosa situação dos Curdos.
(Agustin Sciammarella, http://elpais.com)
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