sexta-feira, 26 de maio de 2023

O DESCONCHAVO DO PSD

 

(Penedo do Guincho - fotografia de Nuno Lamas Almeida Pimentel)

(As incongruências do governo de António Costa, determinadas por um conjunto reduzido de boas surpresas da governação, em que incluo Fernando Medina, Mariana Vieira da Silva, Duarte Cordeiro, Pedro Adão e Silva, António Costa Silva e, por muito que isso possa surpreender, Ana Mendes Godinho e por erros de casting que me dispenso de elencar, justificariam para a saúde da vida democrática em Portugal um PSD coeso, forte e respeitador dos seus princípios. Bem sei que para um partido de poder estar dele ausente por muito tempo, como é o caso, é terrível para manter a motivação das tropas e que tropas. Mas nos tempos mais recentes, afinal tão perto da retoma do poder, o PSD é a imagem do desconchavo, que a imagem seráfica do seu líder parlamentar Joaquim Miranda Sarmento não consegue apagar, já que ele afoitamente se esforça cada vez por fazer parte e animar esse mesmo desconchavo.

A inqualificável ofensiva que a TVI protagonizou em torno da retoma do caso Tutti Frutti na Câmara Municipal de Lisboa e que visava, à moda do mais tradicional tiro ao boneco de feira, fragilizar os ministros Fernando Medina e Duarte Cordeiro, animado por um não menos inqualificável Ministério Público que deposita nas mãos de jornalistas ávidos de sangue para satisfazer os seus patrões uma investigação sem fundo de evidência relevante que dura há sete anos, é esta sim uma clara evidência do irregular funcionamento das instituições democráticas, com a justiça e o Ministério Público no centro do furacão. Uma investigação que a ser frutífera, que não o é e que está transformada numa simples arma de arremesso político, colocaria não apenas o PS mas também o próprio PSD como alvo da chacota nacional, é afinal utilizada no Parlamento pela bancada parlamentar liderada pelo seráfico Sarmento para se substituir ao Chega na mais pura e descomplexada chicana política.

Fiquei realmente perplexo, não com a desfaçatez do Ministério Público e dos juízes que protagonizaram a investigação (claro que o nome de Carlos Alexandre não poderia estar ausente) ou com a degradação e venalidade de algum jornalismo, que isso são coisas com as quais já nos habituámos a viver, mas fundamentalmente com o desconchavo que reina entre as hostes do PSD. A situação é tão incómoda que um parlamentar social-democrata referido na pseudo-investigação, Carlos Eduardo Reis, que abalou de Barcelos para Lisboa, deu um murro na mesa, dividindo a bancada e mostrando que não estava disposto a ser o idiota útil de uma ofensiva que visaria danos mais vastos e amplos no Governo.

Um partido, ou se quiserem, algumas franjas desse partido, que se prestam a entrar no jogo pérfido e de baixaria do Ministério Público e da TVI, cavalgando encenações judiciais de baixa estirpe, que raio de confiança nos pode oferecer quanto à linha vermelha a manter em relação ao Chega. Uma vez mais se conclui que a cópia é sempre pior do que o original, mas o desconchavo a que o principal partido da oposição se presta, não se percebe bem para quê e que contrapartidas terá subjacentes, leva-me à conclusão, arrepiante bem sei, que por agora é preferível pôr na linha os “enfants terribles da governação que abrir caminho a quem utiliza politicamente material tão mal cheiroso para precipitar a caminhada para o poder.

Só os deuses saberão se Cavaco terá pretendido assinar um beijo de morte ao candidato Montenegro, louvando as suas virtudes, ou se tivemos apenas uma diatribe do velho político para melhorar a produção de bílis relativamente ao primeiro-Ministro e assim aguentar por mais algum tempo a sua prestimosa Maria dos Presépios.

Mas, colocando-me na posição de António Costa, estaria preocupado com o desconchavo do PSD. É que governar com a sombra desse desconchavo e não sob a pressão de uma posição coerente e consequente, mesmo que agressiva, é bem mais difícil e tentador para os que não se medem na sua ambição.

 

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