segunda-feira, 29 de maio de 2023

TSUNAMI DE DIREITA

 


(A expressão não é minha, mas do jornalista Fernando Salgado da Voz de Galicia, analisando os resultados das eleições municipais e autonómicas parciais em Espanha. A vitória global do PP, com cerca de três a quatro pontos percentuais à frente do PSOE, acompanhada também da subida de votação do VOX, marca uma trajetória política futura que muito dificilmente não levará em dezembro próximo a um governo PP. O PP de Ayuso consegue maiorias absolutas na Comunidade e no município de Madrid, mas o PP de Feijoo, ou seja, não necessariamente com o estilo de Ayuso, consegue vitórias importantes em Valência, arrasa na Andaluzia, consegue o mesmo número de deputados na sempre socialista Extremadura e varre de facto o território espanhol. Paradoxalmente, na Galiza em que o PP se transforma na formação política mais votada a nível municipal, a sua presença nas principais cidades não é expressiva e o PSOE galego, que perde menos do que o PSOE nacional, é ultrapassado à esquerda pelo Bloco Nacionalista que, tudo indica, liderará pela primeira vez o município de Santiago de Compostela. O irrascível autarca socialista Abel Caballero mantém a maioria absoluta em Vigo. Só em Castilla La Mancha o PSOE consegue manter com êxito um dos seus bastiões. À esquerda do PSOE, a coligação PODEMOS- Izquierda Unida tem uma derrota das valentes e o projeto SUMAR da Vice-Presidente Yolanda Diáz parece não somar rigorosamente nada. Estranhamente, no País Vasco, o BILDU melhora acentuadamente a sua votação. A direita espanhola parece poder sonhar com um presente natalício.

Já aqui tínhamos referido que, sobretudo após a vitória nas regionais andaluzas, em que os resultados obtidos permitiram ao PP dispensar o apoio do VOX, o partido de Feijoo e Ayuso iniciara uma trajetória ascendente de ganhos eleitorais que aguardava apenas um momento oficial para ser materializada. E embora a ascensão de Feijoo tenha enfrentado problemas de percurso, por um lado internas geradas pela agressividade e ganho de protagonismo da líder madrilena, por outro decorrentes da evolução macroeconómica global positiva da economia espanhola, as últimas sondagens evidenciavam que a vitória local e autonómica estava próxima. Os resultados de ontem superaram as sondagens disponíveis, especialmente em Valência, no município de Madrid e na Extremadura, anunciando nesse sentido que só por um milagre qualquer da política Sánchez poderá manter o poder nas próximas legislativas de Dezembro.

Poderá perguntar-se a que forças e tendências corresponde esta ascensão do PP e da direita geral, é bom não esquecer este último ponto, porque à sua direita não são favas contadas para o PP.

Apesar do relativo conforto fornecido pela evolução macroeconómica global, as condições em que o apoio parlamentar à coligação PSOE-PODEMOS foi conseguido teriam de provocar desgaste político insanável. Quando já em plena campanha eleitoral, se percebeu que o BILDU, apoiante pontual da coligação e de Sánchez, apresentara candidatos ex-condenados pela ligação à ETA e a alguns atentados, pontos nevrálgicos da sensibilidade espanhola mais profunda tinham sido atingidos, percebeu-se que um ponto de não retorno tinha sido alcançado.

As escaramuças entre Feijoo e Ayuso são pera doce quando cotejadas com o desconchavo interno do PSD em Portugal, por isso a dinâmica criada pelos resultados do 28M parece imparável e daí a ideia de tsunami do sempre perspicaz Fernando Salgado.

O que irá fazer agora o sempre resistente Sánchez? Imagino que irá tirar partido do descalabro também observado à sua esquerda e clamar que só o PSOE poderá garantir um porto de abrigo face ao tsunami de direita. Recordo que à esquerda do PSOE só o Bloco Nacionalista Galego poderá cantar vitória, a liderança de Santiago de Compostela será simbólica e isso tem uma “única explicação, a sobriedade e eficácia de mensagem da líder galega Ana Pontón.

 

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