(China - Exportações e Importações de veículos a motor)
(Bons e já recuados tempos eram aqueles em que a minha geração de economistas, designadamente a comunidade que laborava na Faculdade de Economia do Porto, discutia acesamente a evolução da divisão internacional do trabalho, confrontando teorias, abordagens, modelos, insatisfeitos com a visão mais tradicional das vantagens comparativas que decorria do velhinho modelo de Ricardo e do também velho Hecksher-Ohlin. Eram os tempos da troca desigual de Emmanuel Arghiri, do conceito então promissor de vantagens comparativas dinâmicas que nos permitia introduzir na discussão o tempo longo e as relações de poder e hegemonia no comércio internacional, da especialização internacional vista conjuntamente com a dinâmica da acumulação de capital à escala internacional e de orientação do investimento direto estrangeiro. Com a evolução do tempo, a globalização e os seus rumos começaram a ocupar o espaço da reflexão e começámos a perceber que o comércio internacional e a divisão internacional do trabalho avançavam por ondas sucessivas de entrada de novos grupos de países exportadores, à medida que os salários cresciam nos países que protagonizaram as ondas de exportação anteriores e substituíam exportações, abrindo caminho a novos candidatos, que traziam consigo novas vantagens salariais. A divisão internacional do trabalho ainda se mexe sobretudo alicerçada neste movimento em que a evolução estrutural de uns abre caminho a outros. Mas agora, há um outro contexto relevante – o da transição energética e a indústria automóvel aí está para o demonstrar, com as exportações chinesas a demonstrá-lo na perfeição.)
Há dias, quando em Vila Nova de Cerveira, depois de estacionar o meu Kia Diesel, passava pelos carregadores elétricos da Tesla, mesmo ao pé do edifício da Câmara Municipal e discorria mentalmente sobre quando me atreverei a considerar a hipótese de compra de uma viatura elétrica, para já seguramente que não, imaginava que naquele concelho tão procurado ao fim de semana as possibilidades de recarregamento de um veículo elétrico são residuais, porque limitadas a dois lugares de recarregamento específico da tecnologia TESLA. Convencido das razões de não considerar a hipótese de compra de um elétrico, uns metros adiante dei com um belo veículo estacionado, elétrico, num azul envolvente, de aparência sugestiva e de linhas atrativas. Não identifiquei a marca, detive-me um pouco pela curiosidade de identificar o modelo e percebi que era um modelo chinês de bela aparência, de matrícula espanhola.
Tudo isto a propósito da presença da China entre os exportadores de automóveis e de viaturas elétricas, que reconheço ser um marco importante da evolução da divisão internacional do trabalho neste domínio. Tal como outros países o fizeram no passado, e nesse âmbito a Coreia do Sul é uma referência de excelência, da qual a Kia e a Hyundai são os principais expoentes, a China passou de importador de automóveis e de tecnologia automóvel para um processo de exportação, com tecnologia autónoma obviamente concebida a partir dos seus concorrentes anteriormente importados. E já adaptada à onda da transição energética.
O gráfico que abre este post é em si eloquente desta mudança na divisão internacional do trabalho, evidenciando a mudança estrutural operada na economia chinesa que vai acabar por abrir caminho à entrada no comércio internacional de uma nova onda de exportadores, ocupando a faixa de competitividade anteriormente ocupada pela economia chinesa.
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