A ordem internacional em que vivemos não só é profundamente cínica como se mostra crescentemente num caminho conducente ao seu estertor. Não obstante, o certo é que ainda vai conseguindo produzir algumas indicações humanitárias relevantes (mais não seja para acautelar as consciências mais lutadoras), até porque é duvidoso que uma nova ordem possa garantir uma convivência global mais justa e pacífica.
Refiro-me à emissão de ontem, pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) das Nações Unidas, de uma resolução em que as ações de Israel na guerra de Gaza ficam sujeitas a uma série de medidas cautelares (aliviar a situação desesperada da população civil, evitar quaisquer ações que constituam genocídio, prevenir e punir os incitamentos internos ao genocídio e não destruir quaisquer provas incriminatórias) que são consideradas obrigatórias para Israel (porque o país que reconhece o TIJ e porque participou nas sessões) e, portanto, comprometedoras (Netanyahu tem um mês para apresentar provas de cumprimento das presentes disposições).
Ainda assim, dois aspetos tiveram de ficar por ora secundarizados no quadro da complexa teia de regras e procedimentos que compõem a dita ordem internacional: o pedido de um cessar-fogo entre Israel e a organização terrorista Hamas, por um lado, e o processo movido pela África do Sul contra Israel de “intenção genocida” contra a população palestiniana (constitutivo de um verdadeiro “paradoxo da história”), por outro. O que não impede a avaliação da maioria dos observadores internacionais no sentido de que a decisão do TIJ é histórica, já que estão em causa para Netanyahu consequências mais abrangentes e até potencialmente inéditas do que o habitual desrespeito pelas resoluções da ONU; mas tal não pode deixar de ser encarado como poucochinho por parte de cidadãos comuns confrontados com as terríveis imagens de sofrimento de milhares de inocentes e as inaceitáveis declarações dos governantes de Israel.
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