segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

DESLUMBRANTE

 



(Sou um tipo fiel às minhas rotinas musicais. Entre elas, quando a RTP 1 nos concede o privilégio de ver em direto o Concerto de Ano Novo em Viena, considero que não há melhor maneira de passar a primeira manhã de 2024 do que assistir aquela manifestação seguramente de elite. Graças ao patrocínio da não menos elitista marca ROLEX, é possível transmitir para todo o mundo interessado aquele momento raro vienense, que todos gostaríamos uma vez que fosse de usufruir em direto, nem que fosse naqueles lugares lá bem no fundo da famosa sala dourada do Musikverein, mesmo em pé, se fosse necessário. É espantoso como uma tradição que se repete com o ritmo automático de um relógio de precisão nos pode reencantar todos os anos, mesmo que este ano pela primeira vez talvez se fizesse sentir no local a proximidade da guerra na Ucrânia. E, por isso, aí estou eu a iniciar o ano fiel a essa rotina.)

O concerto deste ano acabou por ser mais diversificado do que o habitual, com nove peças tocadas pela primeira vez no evento e isso é sempre positivo para variar um contexto musical vienense que para os leigos não é fácil diversificar. Mas em ano de comemoração de Bruckner tivemos mesmo uma quadrilha adaptada para orquestra de uma peça para piano a quatro mãos e nesse campo, o de especialista em Brickner, Tielemann dá cartas.

O maestro Christian Tielemann, que dirigiu pela segunda vez o concerto de Ano Novo no âmbito da sua recente ligação à Filarmónica de Viena, não é propriamente uma personalidade empática à primeira impressão. Mas o desenvolvimento do concerto acabou por dissolver essa não empatia e considero mesmo que terá sido dos concertos mais entusiastas.

Cumprindo-se a rotina, cá estou pronto a iniciar mais um ano de trabalho, desejavelmente liberto dos surtos viróticos que nos preencheram a casa nos últimos tempos, parcialmente revigorado com este deslumbrante concerto.

Ao trabalho e, para compensar, terei na próxima sexta-feira o concerto de Ano Novo da Casa da Música. Não é a Musikverein de Viena, mas também nos orgulha.

Feliz 2024.

 

 

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