A questão de fundo é um clássico que foi ganhando significância à medida que as democracias liberais se foram consolidando, mas ganhou especial saliência quando o ministro da Informação e Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, afirmou: “Sempre declaramos que nos serviríamos dos meios democráticos para conquistar o poder e que, uma vez no poder, negaríamos aos nossos inimigos todas as possibilidades que nos foram concedidas enquanto éramos oposição.” Nestes nossos tempos de recrudescimento de nacionalismos e extremismos de toda a ordem, com a Europa a ser especialmente fustigada pela “normalização” de partidos defensores de ideais antidemocráticos, a questão volta a ser candente e teremos de reconhecer que não tem resposta fácil.
No caso português, julgo ser clara a responsabilidade de uma comunicação social isenta mas fundada em valores perante o problema associado aos riscos de uma marcante aproximação do “Chega” à esfera do poder. Porque uma coisa é o que provém da disseminação de notícias e do interesse público que uma atuação contrária não deve defraudar e outra coisa é a especulação em torno de temas melindrosos e suscetíveis de abrirem caixas de Pandora de previsíveis impactos. Refiro-me ao “destaque” de hoje no meu jornal português de eleição, o “Público”, onde a pretexto de cenários pós-eleitorais se sublinha o alegado facto de que “Marcelo nunca fechou as portas a um governo com o apoio do Chega” e assim se dá objetivamente espaço às pretensões de Ventura e seus lacaios (e, talvez mesmo, às piores tentações do Presidente).
Não tenho grandes ilusões na matéria. Nem quanto a que o “Chega” vai ganhar expressão nas próximas eleições (a Justiça e a Comunicação Social também a tal ajudam diariamente), nem quanto a que um PSD vencedor mas minoritário sempre encontrará forma de conceder benesses ao “Chega” para dele obter o beneplácito parlamentar (pelo menos), nem quanto a que uma lógica estritamente confrontativa por parte do PS contribui para aumentar o espetro de votação possível no “Chega”. Não obstante, muito gostaria de não assistir a passadeiras vermelhas de toda a ordem no sentido de uma facilitação da vida (mesmo que não desejada) a forças cujo desígnio é essencialmente mesquinho, reacionário e perigoso.
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