Aprecio bastante Alexandra Leitão (AL), alguém que começou por me impressionar em reuniões que partilhamos aquando das suas funções de secretária de Estado e que posteriormente foi surgindo, em termos públicos, como uma figura imerecidamente afastada por António Costa do seu último governo e, recentemente, como um quadro indispensável na afirmação da candidatura de Pedro Nuno Santos ao PS e a primeiro-ministro. Dito isto, e não obstante, o que hoje quero aqui registar é o facto surpreendente de nem AL escapar ao viciante mindset da corte que de há muito tomou conta do País a partir do Terreiro do Paço. Ora vejam só como ela iniciou ontem a sua intervenção em “O Princípio da Incerteza” (CNN Portugal): “Dê-me só trinta segundos para dar aqui a minha solidariedade aos jornalistas do Diário de Notícias (DN) que, em situações difíceis, sem receber salários, estão a manter um jornal de pé, um jornal que é centenário no nosso panorama; e, portanto, aqui vai o meu abraço de solidariedade para eles na esperança de que as coisas se resolvam rapidamente, a bem do jornalismo e de forma boa.” Ao que o atento moderador (Carlos Andrade) retorquiu do seguinte modo: “No Grupo Global Media, podemos estender esse abraço a outros que continuam sem receber...”; deixando assim AL algo embatocada perante o seu esquecimento relativamente aos trabalhadores do Jornal de Notícias (um diário de peso bem superior e que historicamente tem sido a “vaca leiteira” do grupo), da TSF e de outros títulos que se encontram exatamente na mesma situação dos do DN (um matutino que merece o maior respeito pelo que já foi na sua longa vida, mas de há tempos mantido artificialmente – dizem-me que não chega a vender mil exemplares ao dia – pelos seus sucessivos proprietários). Reconhecendo que a gafe parece largamente inofensiva – e até que o será –, o que pretendo salientar é quanto a mesma é reveladora de como é tão involuntariamente natural esse terrível modo centralista de encarar Portugal.
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