segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

EM CÍRCULO NO QUADRADO

 

Em complemento do post anterior, algumas breves notas adicionais sobre o restante programa em análise (“O Princípio da Incerteza”). Sobretudo para registar quanto o mesmo começa a mostrar-se em perda, sempre que a discussão resvala para a situação política nacional, por sobredeterminação decorrente das agendas partidárias de Alexandra Leitão e António Lobo Xavier; a despeito de José Pacheco Pereira lá ir insistindo galhardamente nas suas já recorrentes damas (a sua militância PSD desde há 25 anos, o seu especial conhecimento do partido, as suas “sérias divergências políticas com o curso do partido nos últimos anos”, a sua parcialmente provocatória manutenção no mesmo, as vantagens da sua melhor memória histórica, o “grande desprestígio da ação política”, que “ninguém liga nenhuma às propostas”), acrescentando desta vez uma nota de “vergonha alheia” pelo que lhe custou ver o PSD a premiar quem o levou à derrota por má governação (e consequente entrega a José Sócrates) – “uma certa honra perdida nessa matéria, nunca mais se recupera” – e a quem o combateu no terreno e nas urnas (ataques diretos a Pedro Santana Lopes).

 

Ainda que exista uma diferença em relação aos dois primeiros, a qual provem do facto de Alexandra Leitão estar mais com a “mão na massa” e se procurar posicionar de modo mais objetivo (como quando referiu, sobre os serviços públicos, que “há dificuldades, não há falência” ou que a solução não passa pela privatização, por uma certa desproteção dos mais fracos ou por argumentos de subsidiodependência), enquanto António Lobo Xavier (ALX) parece mais tenso e nervoso quanto ao desenrolar do processo eleitoral, apresentando-se invulgarmente pouco rigoroso e até demagógico ou tendencialmente trauliteiro (como quando falou da imensa lata do PS, comparou a ausência de Passos na Convenção da AD à ausência de Sócrates no Congresso do PS ou apontou o dedo a “todo o socratismo militante” que esteve no governo de António Costa).

 

Mais substantivamente, vejamos o que também disse ALX: “Há realmente dois projetos centrais, um de centro-esquerda com uma preferência marcada por uma aliança com radicais de esquerda, radicais em vários domínios, e há uma proposta de centro e centro-direita, com rotura com os radicais e que quer ganhar as eleições sem precisar dos radicais. Portanto, à partida, a AD, ao contrário de Pedro Nuno Santos apresenta-se como ‘eu quero governar, ganhar as eleições, e não quero sequer olhar para os radicais’ (...); Pedro Nuno Santos tem uma opção que é ‘eu quero ganhar as eleições e quero ter maioria parlamentar e, para isso, se necessário tenho muito gosto em restaurar uma ligação aos radicais’, independentemente de eles, entretanto, se terem tornado mais radicais no plano internacional.” Uma declaração profundamente deslocada ao omitir, de forma deliberada, uma de duas verdades: ou que PNS, e não somente Montenegro, também quererá vencer sem necessitar de recorrer aos ditos radicais para formar governo ou que é falaciosa a hipótese de Montenegro querer vencer sem precisar dos radicais de direita.

 

ALX sublinhou ainda: “As duas propostas, da AD e do PS, que é o que conta do meu ponto de vista, estão claras e são completamente distintas. O PS confia no Estado, apesar de ter tratado mal o Estado, confia em ser capaz de compor os serviços públicos com mais Estado (...). Montenegro diz, obviamente, que quer um pacto de clareza e de garantias com os pensionistas (...), mas as suas soluções são claramente viradas para criação de riqueza, para economia livre, para menos impostos.” O que omite, em toda a extensão, a proclamação de PNS segundo a qual a sua principal prioridade é a transformação estrutural da economia e o aumento da criação de riqueza que dela resultará e que permitirá um maior nível de vida dos cidadãos e uma melhor qualidade dos serviços públicos.

 

O meu ponto é, pois, o de que talvez importasse que este programa fosse suspenso durante o tempo eleitoral em curso, por forma a que se evite uma quebra de credibilidade dos seus protagonistas e uma ampliação do ruído dominante (o da inelutável luta partidária que aí está e promete recrudescer), este já por si suficientemente prejudicial às meninges dos portugueses.

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