(O Banco de Portugal continua a ser uma fonte preciosa de informação macroeconómica. Aqui estou eu a regressar à leitura do Boletim Económico de dezembro de 2023 e a focar-me essencialmente em informação relativa ao comportamento das exportações de bens e serviços, no período 2016 a 2023 intra União Europeia, neste último caso com informação relativa apenas ao primeiro semestre. O tema é relevante pois estamos sempre expectantes quanto ao comportamento dessa variável tão relevante para os equilíbrios macroeconómicos nacionais, embora não deixando de reconhecer que é necessário recorrer aos contributos da procura interna, dada a anemia da procura mundial e sobretudo do que provém da União Europeia. Os dados agora publicados pelo Boletim Económico têm a vantagem de distinguir no crescimento das exportações de bens e serviços, analisadas separadamente, os efeitos de reforço de quota de mercado e de alteração estrutural de exportações, desagregando o efeito quota de mercado por ramos de atividade. A comparação dos dados globais com a desagregação setorial é ilustrativa de algum padrão de comportamento, sugerindo em meu entender que está em curso uma mudança estrutural e melhoria de desempenho, embora a um ritmo muito lento e que nos faz por norma exasperar quanto aos efeitos reais das mudanças que vão sendo apoiadas em termos das várias famílias de incentivos ao investimento empresarial.)
Vou abusar um pouco de quadros estatísticos mas é a melhor forma de vos transmitir o sentido da evolução observada de 2016 a 2023, não esquecendo que tivemos uma pandemia pelo meio.
Taxas de crescimento das Exportações de bens e de serviços Intra União Europeia: totais e efeitos quota de mercado e estrutura 2016-2023 (1ºsemestre)
Indicador |
Valor (%) |
Taxa de crescimento de exportações de bens |
7,9 |
Taxa de crescimento de importações de bens |
6,9 |
Efeito quota de mercado das X |
1,7 |
Efeito estrutura das X |
- 0,3 |
Taxa de crescimento de exportações serviços |
12,7 |
Taxa de crescimento de importações de serviços |
7,4 |
Efeito quota de mercado das X |
3,64 |
Efeito estrutura |
1,61 |
Analisemos agora a desagregação do efeito quota de mercado:
Desagregação setorial do efeito quota de mercado nas exportações de bens intra EU
Ramos de atividade |
Efeito |
Alimentação, bebidas e tabaco |
0,1 |
Químicos, plásticos e borracha |
0,1 |
Madeira, cortiça, papel e pasta de papel |
0,0 |
Peles, couros e têxteis |
0,0 |
Vestuário e acessórios |
- 0,2 |
Calçado e acessórios |
- 0,2 |
Pedras, gesso, cerâmica e vidro |
- 0,1 |
Minerais e metais básicos |
0,4 |
Maquinaria e material elétrico |
0,5 |
Equipamento de transporte |
0,5 |
Produtos diversos |
0,4 |
Efeito total |
1,7 |
Desagregação setorial do efeito quota de mercado nas exportações de serviços intra EU
Ramos de atividade |
Efeito |
Transportes |
- 0,4 |
Turismo |
2,1 |
Construção |
0,3 |
Seguros e pensões |
0,0 |
Serviços financeiros |
0,0 |
Direitos de utilização (ex. propriedade intelectual) |
0,0 |
Telecomunicações |
0,9 |
Outros serviços prestados por empresas |
0,8 |
Outros |
0,0 |
Efeito total |
3,6 |
Esta informação vale o que vale, mas penso que o Banco de Portugal está certo em assinalar que as exportações de bens e serviços têm ganho quota de mercado obviamente no turismo, mas também em alguns setores de valor acrescentado mais elevado.
Esperariam os mais esperançosos que o efeito estrutura fosse mais significativo. Não o é de facto. O que confirma a velha ideia de que o desenvolvimento do comércio internacional português far-se-á essencialmente em ramos em que o padrão de especialização está já relativamente consolidado. É de certo modo o ADN da especialização nacional. Teremos de esperar por ventos de mudança mais disruptivos.
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