(A sociedade portuguesa está a permanentemente a demonstrar-nos que é capaz de roçar e atingir a excelência e, simultaneamente, de se abandonar à mais pura mediocridade. Este fim de semana com o sol de Seixas afetuoso e reconfortante a fazer a diferença e os carvalhos a iniciar a sua luta sazonal por despontarem no seu verde esfuziante, confronto-me com as evidências da excelência e os sinais aterradores da mediocridade. Desta vez, o confronto processa-se entre o desporto (e não é o futebol que está na berlinda) e a educação, o primeiro a representar a excelência e a segunda a anunciar-nos que continuamos a não largar de vez a mediocridade. Esta tensão permanente marca o nosso futuro e todos esperamos que a primeira vença a segunda, seja por exaustão, seja por dinâmica de contágio saudável.)
Comecemos pelo desporto.
O tenista nortenho da Maia Nuno Borges cometeu a proeza de estar nos oitavos de final do Open da Austrália, depois de vencer com uma indiscutível superioridade um dos mais talentosos e persistentes atletas do circuito, o búlgaro Dimitrov. Este resultado é de uma importância notável e anuncia um atleta com uma força mental de espantar, emergindo felizmente agora que o ocaso de João Sousa é uma realidade inevitável e que o ténis nacional necessitava urgentemente de uma nova referência para mobilizar os muitos miúdos da formação, como o iniciático meu neto Pedro, que labutam nas inúmeras escolas do país em busca de um maior domínio das suas capacidades e talento. Este resultado cria-nos alguma esperança para a próxima contenda de Nuno Borges, que se confrontará com o rochedo de frieza que é Daniel Medvedev.
A outro nível, no andebol, a seleção nacional vai de vento em popa, derrotando sucessivamente a Noruega, a República Checa e ontem a Eslovénia no que provavelmente terá sido a vitória mais sonante, enquanto que o jogo com a Suécia ditará ou não o prosseguimento do sonho do apuramento para o torneio olímpico. O salto qualitativo do andebol português já não era novidade para nós, mas os resultados acumulados representam algo de notável no desporto nacional. Esforço de formação, profissionalismo na preparação, atração de alguns jogadores e treinadores de nomeada internacional, sobretudo do leste europeu e escandinavos combinaram-se com o talento nacional e transformaram o andebol num verdadeiro caso de estudo.
Moral da história: a excelência é possível, seletiva, pontual e com muito investimento persistente e significativo.
Mas o fim de semana trouxe-nos também a inércia da mediocridade. Apenas 0,7% dos alunos com 5º ano ou menos de escolaridade conseguiram reconhecer o mapa da Península Ibérica em que estão inseridos (Jornal Público). Eu sei que as provas de aferição são o pior contexto possível para construir indicadores de literacia, pois da parte dos alunos e, atrever-me-ia a dizê-lo de parte dos professores, formou-se uma ideia de irrelevância associada a essas provas. Não existe, assim, provavelmente, nenhum investimento de concentração ou preparação e daí que os resultados das provas de aferição possam ser um engano ou uma armadilha. Seria necessário que essas provas fossem completadas por trabalho ao nível das turmas e escolas para contextualizar resultados e clarificar se o panorama é assim tão desolador.
O lugar destacadamente pela negativa ocupado pelos estudantes portugueses na última operação PISA da OCDE anunciou o pior, o que sinceramente não me admiraria dado o ambiente de contínua instabilidade e desnorte que se tem vivido nas Escolas enquanto a situação profissional dos Professores não se clarifica ou se encaminha para uma resolução. Alguém duvida, por exemplo, que o excesso de mortalidade sazonal que se tem vivido em Portugal não se deve também ao ambiente de instabilidade vivido entre a classe médica, com sucessivas greves no horizonte? Será, assim, que estes resultados na educação não estarão também ligados à ausência de pacificação no universo dos professores e conhecemos bem as razões para essa instabilidade?
No meu modesto entender, a futura evolução da sociedade portuguesa vai consagrar esta tensão entre os sinais de excelência e a inércia da mediocridade, cujo resultado será francamente indeterminado enquanto não forem criadas condições institucionais mínimas para que o ambiente escolar durante um período de tempo relativamente alargado possa contar com um horizonte de perspetivas profissionais e de investimento estável e motivador.
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