quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

COISAS DESTE DIA

 

A cada manhã, tenho por hábito já rotinado passar os olhos pelas capas dos jornais do dia (nacionais, europeus e internacionais). Daí retiro a sinalização de temas relevantes em atualidade e a carecerem de leitura e aprofundamento, mas também a deteção de incongruências e absurdos nas abordagens e escolhas da comunicação social. Acerca destes últimos, aqui deixo claros exemplos extraídos dos nossos diários de hoje, com a nota de eles provirem de diferentes dimensões (política, económica e social) e de diferentes tipos de matutinos (Público, Correio da Manhã e Jornal de Notícias).

 

A seleção da notícia do “Público” tem um fundamento algo diverso das duas restantes, mas não deixa de merecer uma referência pela atenção que vai sendo concedida às novas forças que se instalaram na política nacional, atento sobretudo o lado distorcido que os ideários das mesmas vão revelando. É o caso do PAN, um partido que “acaba por recair no centro-esquerda”, segundo a sua líder, mas que optou por patrocinar o semissecular e pouco transparente poder laranja instalado na Ilha de Jardim (designadamente sob o pretexto de que “na Madeira não há touradas”).

 

Já a chamada à colação do “Correio da Manhã” traduz uma ignorância recorrente dos nossos profissionais da comunicação, a saber a retirada de ilações analíticas alegadamente estruturais a partir de dados conjunturais; porque não, Portugal não é o campeão europeu do crescimento do PIB, antes foi apenas o segundo país europeu de maior crescimento no último trimestre de 2023 e não deixando por isso de ser um dos países do fundo da tabela em termos relativos de produção de riqueza e respetiva dinâmica.

 

Finalmente, a peça do “Jornal de Notícias” releva de um vício bem mais perigoso ao sugerir objetivamente que será o recurso ao SNS por parte dos imigrantes a (ou uma das) causa(s) das consabidas dificuldades que o dito Serviço atravessa; como se não soubéssemos que é notoriamente positivo o contributo líquido dos trabalhadores estrangeiros em termos de contribuições sociais. Ao que ainda se acrescenta que a maioria dos utentes em questão é de nacionalidade brasileira, como se não fosse esta comunidade a mais representada na sociedade portuguesa dos dias de hoje. Um título errado e erróneo que mais não serve do que para lançar a confusão e alimentar receios/ódios despropositados junto dos cidadãos mais incautos.


(Riki Blanco, https://elpais.com)

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