Já aqui me referi a este triste tema mas a verdade é que ele continua a agitar a minha inocente cabeça. Mesmo sabendo que Marcelo é um personagem especialíssimo pelo misto de inteligência, tenacidade, perversidade, vaidade, malabarismo e solidão que o carateriza. Mesmo reconhecendo que a vida não tem estado fácil para ele, sobretudo nestes quase dois anos de maioria absoluta em que entrou mal (discurso de posse), entrou depois em choque aberto com o primeiro-ministro (os incidentes em torno de João Galamba foram notoriamente desgastantes) e saiu pior (dissolução do Parlamento) e com alguns requintes de malvadez (aquele episódio do passeio noturno por Belém, acompanhado pela ajudante de campo e por jornalistas com passagem pelo beco dos Távoras e alusão à alegada traição destes e respetiva condenação à morte, ultrapassou todos os limites). Mesmo considerando a atenuante de algum desnorte pela perda notória nos índices de popularidade de que a sua figura goza junto dos portugueses. Mesmo aceitando solidariamente que o assunto das “cunhas” do filho deverá ter sido largamente traumatizante em termos emocionais.
Na realidade, e tudo isto devidamente considerado, continuo a não conseguir encaixar os permanentes recados do Presidente (ou seus mandados) para fazerem capa no “Expresso”, sendo que desta vez a coisa vai ao inconcebível ponto de se admitir temeroso de uma opção negativa de Montenegro em caso de não vencer as eleições e de assim ter de promover uma “terceira dissolução” (tudo isto num momento em que ainda se prepara para marcar as novas eleições legislativas de março). Arrependido que possa estar pela sua atuação, seguro que esteja de que a estabilidade será complexa e difícil após março, nervoso que se sinta pelo avolumar de uma expectante espera que tem pela frente, Marcelo tem mesmo de levantar a cabeça (como se diz na bola) e de se preparar com inteira seriedade para o próximo jogo.
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