terça-feira, 2 de janeiro de 2024

NA MORTE DE WOLFGANG SCHÄUBLE

O temível ministro das Finanças de Merkel, Wolfgang Schäuble, faleceu nos últimos dias do ano findo. Ficará para a história, talvez até algo exageradamente, como a principal cara da austeridade europeia naqueles anos difíceis da crise das dívidas soberanas. Dele se relatam as mais variadas narrativas, umas mais negativas do que outras, mas o que reputo de mais certo decorre do facto de Schäuble ter assumido uma função para a qual, e face às necessidades da ocasião, não estava devidamente qualificado, quer na dimensão política (e europeia, bem-entendido) quer em termos de preparação económico-financeira. Consequentemente, a aparente convicção que exibia advinha, no essencial, da rigidez com que era levado a interpretar e decidir sobre os grandes dossíês do momento, acabando assim por passar à posteridade mais como um verrugo do que como alguém que fez parte das soluções.


 

Um dos casos mais marcantes de que foi protagonista à época teve a ver com a sua férrea defesa de um Grexit, hipótese que poderia ter feito descambar o Euro ou, pelo menos, arrastar para o fundo outras economias como a nossa. Daí o interesse de um recente artigo de Alexis Papachelas (jornalista do “Kathimerini”), segundo o qual o homem manteve até ao fim a ideia de que a Grécia deveria ter sido sujeita a uma cura de ausência (“a timeout from the euro”), subestimando gravemente as dimensões geopolíticas em presença e, como hoje se vai tornando visível, os fatores internos de orgulho e determinação que conduziram os gregos a assumir por inteiro as duríssimas consequências da sua desejada permanência na moeda única.

 

Como orgulhosamente sublinha em entrevista ao mesmo jornal Yannis Stournaras, atual governador do Banco Central (e ministro das Finanças entre 2012 e 2014), “We proved him wrong, thankfully”. De facto, e valendo os rankings o que podem valer (i.e., apenas o fornecimento de alguns indícios sinalizadores), veja-se que a Grécia acabou de ser apontada pela “The Economist”, pela segunda vez consecutiva, como a economia da OCDE que apresentou melhores resultados em 2023, através de um cálculo compósito de cinco indicadores macroeconómicos (“Which economy did best in 2023?”), proeza que largamente também deve ser creditada ao governo liderado pelo excelente primeiro-ministro que é Mitsotakis. Assim se (re)escreve a história, muitas vezes com a ortodoxia das certezas a ceder perante a força das vontades  existam elas!



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