Referi-me aqui ontem ao lançamento da campanha eleitoral por parte de Pedro Nuno Santos (PNS) aquando da sua entronização enquanto secretário-geral no decurso do Congresso do Partido Socialista. E é cedo para ir mais longe, apenas o não é para insistir na iliteracia económica da maioria dos jornalistas que, em reação, produziram incontáveis afirmações demonstrativas daquela ignorância (a asneira é livre!). Com efeito, não só poucos perceberam parte daquilo a que PNS se referia de substantivo e tradutor de um potencial caminho novo para a afirmação da economia nacional – exceciono Helena Garrido, cuja explicação é clarificadora: “Do programa de Pedro Nuno Santos vale a pena destacar os objetivos de desburocratização e o de acabar com o chuveiro de apoios às empresas, concentrando-os em prioridades estratégicas devidamente estudadas. Sim, os liberais consideram que quem sabe melhor quais são essas prioridades são as empresas. Só que isso não é verdade em sectores que ainda estão numa fase tecnológica prematura ou em que os investimentos são demasiado elevados e arriscados para serem suportados sem apoios. Assim como não faz sentido apoiar sectores engarrafados de investimento, como é o turismo. (...) Mas acabar com o chuveiro de apoios, que dá uma gota a cada um, exige coragem política e, especialmente, estar disposto a expor-se às criticas de clientelas que se habituaram a ter sempre algum apoio do Estado.”; inversamente, as críticas foram destemperadas e em todos os impensáveis sentidos, tendo havido mesmo quem chegasse ao ponto de falar na defesa de “planos quinquenais” ou de uma “economia planificada”. Paciência de Jó para conseguir encontrar algum espírito de tolerância perante uma sociedade em que todos acham que podem falar, mesmo quando desconhecem os vícios e a gravidade do que estão a dizer.
Já quanto à Direita – ainda não assumi completamente a justeza e utilidade efetiva desta tão marcante dicotomia! –, a apresentação que ouvi da Aliança Democrática resultou algo aquém das expectativas. Nuno Melo vai à boleia mas quase se quis sobrepor a Luís Montenegro (sendo que este é bem falante mas talvez algo prolixo e, sobretudo, ainda não conseguiu encontrar um registo suficiente de empatia para com os eleitores), o homem do PPM leu o que lhe mandaram e conseguiu não estragar muito mais a festa do que já tinha logrado anteriormente (mas não deixa de ser uma non entity totalmente deslocada naquele espaço) e o ex-bastonário da Ordem dos Médicos, na sua ânsia de dizer coisas e marcar o terreno em termos pessoais, esteve claramente fora do registo pretendido (que era obviamente mais o da representação dos independentes associados à coligação do que o do grande especialista em Saúde que ali surgiu). Dito isto, e sem ir à falta absoluta de qualquer proposta (até porque acho que, boas ou más, elas virão a curto prazo), também me pareceu que o posicionamento de Montenegro ainda vai carecendo de muita afinação: há excesso de contraponto ao PS, e neste mais a Costa umas vezes e mais a PNS outras, transparece uma sensação de que Passos é uma sombra ainda demasiado presente, está por afastar o fantasma de uma inevitável aproximação ao Chega (o que só uma eventual derrota nos Açores afastará, podendo até abrir uma nova fase tática na campanha da AD), falta energia e novidade em todo aquele conjunto (até a presença na assistência de Rui Moreira acabou por ser um ato parcialmente falhado perante as suas declarações de que fora convidado e aceitara mas tal não significava necessariamente que apoiasse a coligação em termos eleitorais). Mas, e ao invés do que parece decorrer do acima afirmado, reafirmo a minha ideia de que a procissão ainda vai no adro, sendo assim certo que não apenas a dita Direita ainda virá a jogo com propostas mais densas como também o facto de que a situação de PNS é especialmente melindrosa pela quadratura do círculo que decorre da sua indesejável mas forçosa ligação a um Costa que foi objetivamente a cara de muito daquilo que ele agora pretende inverter.
Dentro desta linha de reflexão, só podemos prever com certeza absoluta a dureza dos próximos dois meses de campanha para quaisquer dos contendores. Porque nunca foi tão verdade que “prognósticos só no fim do jogo”...
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