segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

DA NOSSA ATUAL EMIGRAÇÃO

 
(cartoons de Luís Afonso, “Bartoon”, https://www.publico.pt) 

São observações assustadoras as que podem decorrer do cruzamento dos dados do Observatório da Emigração já aqui aflorados (quase um terço dos nascidos em Portugal com idades entre os 15 e os 39 anos deixaram o País), com os dados relativos ao aproveitamento escolar dos nossos alunos pré-adolescentes (só 0,7% sabem identificar a Península Ibérica num mapa) e com os múltiplos dados relacionados com o sucesso da atividade turística em Portugal. Todas notoriamente indiciadoras, qualquer que seja o enfoque, de que estamos em face do irremediável: “o nosso futuro é longe daqui”.

 

E, no entanto... De facto, a realidade parece ser bem mais complexa do que o que vai sendo reportado e que forças populistas e políticos apressados aproveitam descuidadamente. Veja-se, por exemplo, o modo como Bárbara Reis (BR) sintetizou num artigo do “Público” (“Mitos e mentiras sobre a emigração portuguesa”) tópicos essenciais para uma leitura mais rigorosa da matéria em causa: “Não citou [a deputada do “Chega” Rita Matias] a parte em que o coordenador científico do observatório, Rui Pena Pires, disse ao Expresso que “é normal que haja emigração”. Ou quando Pena Pires disse que a percentagem de jovens que fez a manchete — os tais 30% — ‘é o padrão normal’. Ou quando Pena Pires disse que, apesar de haver hoje mais portugueses qualificados a emigrar, ‘a maioria da emigração portuguesa continua a ser muito pouco qualificada’. Ou quando disse que, se hoje há mais licenciados no país, é natural que haja mais licenciados a emigrar.” Remeto os nossos leitores para o texto de BR em causa, aliás muito bem complementado por um outro relacionado com o fenómeno contraposto (“Mitos e mentiras sobre os imigrantes em Portugal”), para que assim se possa melhor abordar o efetivo alcance e a verdadeira excecionalidade do que releva no fenómeno da emigração recente em Portugal e do seu subproduto associado à “geração mais qualificada de sempre”. Porque, sendo absolutamente indesmentível que o problema existe e que as preocupações que se manifestam têm real fundamento (mais ou menos objetivo, mais ou menos subjetivo), aquilo de que o País precisa é mesmo de ganhar juízo, de arrepiar caminho e de mudar de vida.


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