terça-feira, 2 de janeiro de 2024

O ETERNO DILEMA DOS FLUXOS E STOCK DEMOGRÁFICOS MUNDIAIS

 


(Este gráfico publicado pelo OUR WORLD DATA é bastante sugestivo e traz de novo à reflexão o comportamento da população mundial. Já há alguns anos que se ouve falar da mais do que provável estabilização da população mundial, mais propriamente do stock global de população. Para isso, a população mundial teve de desacelerar o seu crescimento, que é perfeitamente visível no gráfico, sobretudo a partir do ano de 2000. Nos últimos tempos, outros fatores penalizadores têm contribuído para esse comportamento, com a pandemia à cabeça que antecipou a mortalidade de imensa gente e obviamente que a multiplicação de guerras locais e regionais para isso também muito contribui. Entre os fatores de incidência normal e relacionados com os processos de desenvolvimento, obviamente que o aumento dos níveis de qualificação das mulheres, a sua progressiva entrada de pleno direito no mercado de trabalho e a consequente adoção de comportamentos mais parcimoniosos de fertilidade devem ser destacados. Por isso, se diz com alguma prudência e reserva que o desenvolvimento tende a mitigar o problema demográfico. Mas estamos a falar, não o ignoremos, de população mundial e não estamos a considerar a sua repartição espacial pelo mundo. Em muitos países, com a África à cabeça, a estabilização da população mundial global vai coexistir com o crescimento ainda saliente da população em muitos países africanos. Embora também em África a qualificação das mulheres e a sua entrada no mercado de trabalho também aconteça, com menor intensidade como é óbvio, a descida da taxa de fertilidade continuará durante algum tempo a coexistir com o crescimento da população, já que o número de mulheres jovens em idade de casamento e de procriação é ainda muito elevada. Assim, mesmo que cada mulher tenda para um número médio de filhos mais baixo, isso não impedirá que o número global de nascimentos continue elevado.)

 

Assim, se pensarmos que no mundo menos desenvolvido continuarão a existir ilhas relevantes de crescimento demográfico, a sua coexistência com o incremento da conflitualidade bélica e étnica, os efeitos da emergência climática e com baixas perspetivas de desenvolvimento tenderão, num mundo cada vez mais globalizado ao nível das comunicações, a intensificar migrações a partir dessas ilhas demográficas para países em rarefação demográfica, porque aos primeiros associaremos ausência de perspetivas de desenvolvimento e aos segundos a esperança, muitas vezes vã, de melhores condições de vida.

A projeção do gráfico assinala que só depois de 2080 as taxas de crescimento da população mundial serão negativas, fazendo então descer o stock mundial de população. Mas como essas tendências de encolhimento demográfico se farão sentir nos territórios com mais perspetivas de desenvolvimento, a exceção neste aspeto estará em alguns países asiáticos cujas perspetivas de crescimento são mais salientes, o cenário de migrações tenderá a intensificar-se.

A Europa envelhecida continuará, assim, a ser o palco mais óbvio de dissonância entre os comportamentos de perceção política, cada vez mais xenófoba e propensa a diabolizar as migrações, e o comportamento real da demografia mundial e das suas incidências espaciais. Antevê-se, sem esforço, o recrudescimento de fenómenos repressivos. Aliás, é nesses padrões que regra geral a ausência de governança mundial tende a materializar-se.

 

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