Dizem-me várias fontes, e eu próprio o tenho testemunhado pontualmente, do entusiasmo que se faz sentir em grupos de Whatsapp e conversas de amigos (já para não falar das famosas redes sociais) a propósito do discurso do novo presidente argentino (Javier MIlei) em Davos, onde fez questão de se deslocar para ali dar a devida conta a quem de direito do ideário que o anima. Tive o cuidado de ouvir na íntegra a dita e quase messiânica evangelização (sem ofensa para os que disso são responsáveis sérios) e pude confirmar a minha impressão de partida: um arrazoado de proclamações abstratas sobre a necessidade de salvação do “Ocidente em perigo” e os perigos de um capitalismo excessivamente regulado (“não se deixem intimidar pelos parasitas que vivem do Estado”), sem deixar também de apresentar a sua própria variante “trumpista” (Make Argentina Great Again) de um país que teria sido rico em finais do século XIX para depois se despenhar na decadência às mãos do “coletivismo” e de uma “casta política” democraticamente forjada; marcaram ainda presença na fala de Milei o negacionismo climático e diversas componentes das questões de género e múltiplas referências amalgamadas às “cumplicidades socialistas”, incluindo as de Keynes (na economia) e das direitas tradicionais (na política). E foi assim que “o primeiro presidente libertário da história da Humanidade” brilhou e impressionou aquela plateia escolhida de políticos e homens de negócios, com o brutal alcance da “palavra do senhor” a alastrar depois em mancha de óleo por todos os cantos do mundo.
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