Um interessante artigo de John Burn-Murdoch no “Financial Times” (“A new global gender divide is emerging”) suscita uma questão inesperada e muito curiosa: a da expressiva emergência de diferentes visões do mundo entre os jovens do sexo masculino e as jovens do sexo feminino, assim ficando confrontada a ideia de que as diferenciações político-ideológicas são preferencialmente geracionais. Os gráficos acima são sugestivos dessa mudança em curso ao mostrarem que: (i) nos últimos seis anos, as mulheres americanas entre os 18 e os 30 anos apresentam-se como 30 pontos percentuais mais liberais (em matérias de imigração e justiça racial, designadamente) do que os seus mais conservadores pares masculinos; (ii) a diferença em causa é igualmente de 30 pontos na Alemanha e de 25 no Reino Unido (o autor refere ainda que, na Polónia, quase metade dos homens com idades compreendidas entre os 18 e os 21 anos apoiaram o partido de extrema-direita contra apenas um sexto das mulheres da mesma idade); (iii) fora da Europa, e considerando o caso específico da Coreia do Sul, tal diferença surge como abissal (um padrão que, segundo os investigadores responsáveis pelo estudo, se repete menos extremadamente na China ou na Tunísia). Acresce o dado relevante de esta divisão, que vai sendo claramente observada e aprofundada, ser exclusiva ou muito mais pronunciada no caso da geração jovem por comparação a outras de idades superiores.
Obviamente que ninguém estará em condições de prognosticar com precisão o alcance efetivo do facto em presença na configuração das sociedades do futuro mais ou menos próximo. Uns insistem no caráter definitivo da referida divergência, chegando mesmo a postular a ideia de que a Geração Z já são duas gerações e não apenas uma; outros privilegiam o caráter mais conjuntural da mesma, assinalando as consequências provenientes do alastramento do movimento #MeToo e de uma crescente afirmação dos valores e atitudes femininas e correspondente tendência para uma separação vivencial (o que é facilitado pela proliferação de smartphones e das redes sociais). Num plano mais diretamente político, importará também equacionar os impactos que poderão tornar-se mais significativos: por um lado, entre o deslocamento das mulheres para o progressismo e as posições de esquerda e o movimento dos homens no sentido de um conservadorismo de direita que vai tendendo para a extrema-direita; por outro lado, em termos de taxas de participação política, tradicionalmente baixas nos jovens mas podendo conhecer algum recrudescimento em função de variações de peso assumidas na força das convicções.
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