sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

O AVANÇO DA EXTREMA-DIREITA NA ALEMANHA

Um mapa espantosamente sugestivo foi-nos há dias disponibilizado pelo serviço de notícias e análise dirigido pelo nosso velho conhecido Wolfgang Münchau. Reporta-nos ele o atual estado das sondagens eleitorais na Alemanha (no caso, trata-se de salientar o partido maioritário nas diferentes circunscrições federais consideradas), com a CDU/CSU (a preto) a dominar largamente no lado ocidental e a AfD (a azul) a dominar largamente no lado oriental mas a começar a penetrar em algumas áreas ocidentais. De notar, além dessa força crescente da extrema-direita no país, a perda de representatividade do partido (SPD) que venceu as últimas eleições e lidera o governo através do cada vez mais indecifrável e cinzento chanceler Olaf Scholz. Para uma perceção mais clara do que têm sido as evoluções de simpatia partidária por parte dos cidadãos, atente-se (como resulta claro do gráfico abaixo) nos ganhos de intenções de voto exclusivamente centrados à direita (8 pontos percentuais de aumento para os democratas-cristãos desde as eleições de setembro de 2021) ou à extrema-direita (12 pontos percentuais para a AfD desde as últimas eleições), na enorme queda dos social-democratas (11 pontos percentuais desde as últimas eleições), na forte queda dos liberais (7 pontos percentuais desde as últimas eleições) e nas quedas mais limitadas das restantes forças relevantes (Verdes e Partido de Esquerda). Sinais inquietantes de uma evolução que também vai tendo a respetiva tradução regional (em 2023, como lembra Münchau, o estado da Turíngia elegeu o primeiro presidente regional da AfD, o primeiro mayor local desse partido foi eleito na Saxónia-Anhalt e acabou de ser eleito o primeiro governing mayor da AfD na cidade saxónica de Pirna) e que se estima ir ser aprofundada nas eleições que se aproximam nos cinco estados do leste do país e nas eleições europeias. E, pese embora a tradicional e quase incontornável necessidade de coligações multipartidárias para assegurar a governabilidade, o facto é que elas vão perdendo popularidade junto dos votantes (cada vez mais propensos a concentração de votos numa perspetiva utilitária) e, em particular, que as “linhas vermelhas” que por lá também se ergueram (até com bastante mais sinceridade inicial do que por cá) já começam a ceder em toda a linha perante a imperiosa atração do poder.

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