quarta-feira, 28 de novembro de 2012

AINDA PAUL DE GRAUWE



Foi um prazer ouvir a serenidade pedagógica de Paul De Grauwe na conferência inaugural dos 50 anos do ICS, aliás reiterada nas pequenas entrevistas que concedeu à comunicação social portuguesa. Serenidade pedagógica que alinhava excecionalmente bem com o enquadramento belíssimo da ampla janela horizontal do auditório 2 da Gulbenkian. Tenho um fascínio por estas janelas. Divido-me entre esta e as janelas também horizontais de Siza Vieira em Serralves.
A intervenção de De Grauwe é muito pedagógica, sobretudo porque parte da fragilidade congénita da arquitetura da união monetária da zona euro. E o que é relevante é que a demonstração dessa fragilidade é feita a partir de evidências inequívocas. De Grauwe mostra como países como o Reino Unido, por exemplo, com rácios de dívida bem piores do que os da zona euro não estão sujeitos ao mesmo poder dos mercados financeiros que exercem sobre os países sem soberania monetária e sem um Banco Central que intervenha como emprestador de último recurso: “países que se tornam insolventes apenas porque os investidores receiam a insolvência!”. A fragilidade atinge governos e também os bancos, segundo uma cadeia de efeitos que começa na venda massiva de títulos soberanos, subidas da taxa de juro e fugas também massivas de liquidez.
A fragilidade congénita da arquitetura do sistema abre caminho a contágios de proporções incalculáveis: a crise das soberanas repercute-se na fragilidade da banca e esta última atinge também os governos, suprimindo a atuação de estabilizadores naturais e gerando situações de autopropagação de expectativas.
A proposta de De Grauwe para superar esta fragilidade assenta em dimensões de curto (a ação do BCE como emprestador de último recurso), médio (políticas macroeconómicas para a zona euro, envolvendo países mais e menos desenvolvidos, segundo um modelo de 2 elementos para o tango) e longo prazo (consolidação de orçamentos nacionais e níveis da dívida). É ainda particularmente crítico quanto à confusão hoje existente nas funções do BCE: “bombeiro” e simultaneamente polícia (membro da Troika), o que De Grauwe interpreta como perda de independência política.
Compreende-se que a serenidade pedagógica de De Grauwe tenha incomodado o embaixador alemão presente na sala. Como já referi no post anterior, essa serenidade não impediu uma resposta firme e bem colocada às já incompreensíveis posições alemãs de assumir o seu papel na recuperação dos desequilíbrios macroeconómicos da zona euro.

1 comentário:

  1. Bem, em matéria de janelas´ que nos trazem a
    paisagem para dentro dos espaços de trabalho, tem também a do Auditório da Fundação Champalimaud quase oval e rasgada sobre o Tejo. De cortar a respiração, ao primeiro contacto.
    A foto, em manhã de nevoeiro, não é feliz e valoriza mais os àvidos presentes na Sessão do "Novo QREN".
    AONeves

    http://www.ifdr.pt/content.aspx?menuid=22&eid=6456

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