sábado, 2 de abril de 2016

A CANÇÃO ESPANHOLA NA EUROVISÃO


(Ricardo Martínez, http://www.elmundo.es)

Chegou a confirmação do que já há muito era tido por inevitável: a tão comunitariamente protegida Espanha de Rajoy furou escandalosa e chocantemente o seu défice público de 2015 (5,2% do PIB, ou seja, qualquer coisa como 10 mil milhões de euros acima do previsto, o equivalente a uns bons 1% do PIB a mais). Sim, esse mesmo défice que em outubro alguns comissários diziam duvidar que pudesse ficar-se pelos 4,2% a que o país se comprometera, tendo então sido confrontados pelo presidente do governo espanhol com uma resposta bem grossa e mal humorada (é bem verdade que a melhor defesa é o ataque!).

Após a observação do belo panorama evidenciado pela evolução do défice público espanhol desde 2011 (gráfico acima), atente-se nos dois muito pertinentes comentários disponibilizados no “El País” sobre a matéria:

· “Em setembro de 2014, o governo de Rajoy apresentou o seu orçamento para 2015. Com um preço esperado do petróleo próximo de 100 dólares, um prémio de risco em torno de 200 pontos básicos e uma contração do consumo público de 1% esperavam-se crescimentos do PIB de 2% e do emprego de 1,5% e um défice de 4,2% do PIB. O petróleo desabou para 30 dólares, Draghi comprou 60 mil milhões de euros de dívida espanhola reduzindo significativamente a despesa em juros da dívida pública e o PIB e o emprego cresceram cerca de 3%. Ceteris paribus, o défice espanhol de 2015 deveria ter fechado à volta dos 3%, compromisso assumido por Espanha no Pacto de Estabilidade e Crescimento. Que sucedeu para que o défice seja superior a 5%? A causa principal é a má prática do governo Rajoy desde 2012 de subestimar as despesas e sobrestimar as receitas.”;

· “Madrid jurou e perjurou em Bruxelas que cumpriria rigorosamente o défice. Lançou acusações à Comissão Europeia por usar politicamente o caso espanhol. Cifrou o buraco provisório em 4,5% do PIB e notou que a UE errara nas suas previsões. Mas os dados definitivos dão razão a Bruxelas: a Comissão expressou esta Quinta-Feira, em privado e em público, surpresa e um profundo mal-estar pelo grau de incumprimento orçamental. O braço executivo da UE assume que o próximo Governo irá pedir um ano mais para alcançar a meta de 3% mas à custa de um duro ajustamento.”

Moral da história, aliás três: demagogia eleitoralista (baixas de impostos, p.e.) e “colinho” europeu à parte, o balanço do mandato de Rajoy surge cada vez mais como claramente desastroso e o seu comportamento nestes meses pós-eleitorais só tem confirmado a sua tremenda falta de estatura política; Dombroviskis mostrou-se “surpreendido”, mas mais consequente teria sido se se tivesse declarado profundamente envergonhado/enrascado – aliás como também o seu pouco esclarecido e sempre moldável chefe Juncker; as favas, essas, vão recair sobre as Autonomias (Guindos já adiantou a introdução de cortes de 7 mil milhões) e sobre as esperanças antiausteritárias de um futuro governo que há de chegar lá mais para o Verão (e já lá vão mais de 100 dias...). Tudo como dantes, ou quase.

Sem comentários:

Enviar um comentário