Aprendi com autores de referência a interpretar a inovação
como um fenómeno ou processo indeterminado por natureza e definição. Aprendi já
por dedução minha como pode ser prematuro, precipitado ou simplesmente tonto
dar por acabado o ciclo de evolução de alguns produtos. Como a inovação é
indeterminada, nada nos garante que um dado produto considerado em agonia ou em
perda acelerada não possa por qualquer passe de mágica inovadora ressurgir da
morte anunciada ou pelo menos prolongar no tempo a sua consumação.
Em alguns trabalhos profissionais que realizei,
designadamente os que permitiram o contacto mais profundo com a economia do
vinho da região do Douro, esteve sempre em cima da mesa uma espécie de tendência-cutelo
que afeta os vinhos fortificados, grupo em que o vinho do Porto se insere. De
facto, há alguns fatores que pesam desfavoravelmente nessa tendência-cutelo,
tais como o não rejuvenescimento do público consumidor, a queda dos hábitos das
grandes refeições de família às quais estava associado o consumo de vinho do
Porto, a tendência crescente para o consumo de vinhos mais leves e de mais
baixo teor alcoólico que são o oposto dos fortificados, as crescentes restrições
ao consumo de álcool, enfim todo um conjunto de fatores que podem precipitar o ciclo
de produto dos vinhos fortificados, considerados como minoria em extinção (o
Marsala em Itália, o Tokay na Hungria, o vinho do Porto, o vinho da Madeira e o
Jerez em Espanha). De todos estes exemplos, o exemplo do Jerez é seguramente
aquele que, partindo de uma grande expressão de vendas, sucumbiu mais
fortemente à erosão da procura. Quanto ao vinho do Porto, a resiliência das
vendas em valor sobretudo de categorias e idades com preços médios de venda bem
elevados e as abordagens menos canónicas dos portos tónicos, dos pinks, ice
Porto e outros que tais têm produzido o efeito de suspensão da tendência-cutelo,
embora com uma fortíssima concentração do negócio em torno de um número
reduzido de players.
O El País semanal publica uma excelente reportagem do jornalista
Pablo Blanco sobre o pretenso renascimento do Jerez da decadência observada nos
fins do século XX. A elegância da enóloga Paola Medina da firma Williams&Humbert
(ver imagem inicial) dá o toque de inspiração de modernidade e rejuvenescimento
à reportagem, toda ela orientada para o charme discreto dos artífices da revolução
empreendida e para a força do florescimento dos bares de Jerez pelas megalópolis
de Londres, Nova Iorque e Tóquio.
Será que estamos perante jornalismo impressivo e de sedução
pelo charme do Jerez resiliente ou, pelo contrário, perante forças sólidas de inovação,
que o retiram da morte anunciada? Preciso de alguns números para o testar, mas
fica a necessidade de uma melhor atenção ao fenómeno.
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