terça-feira, 19 de abril de 2016

A HIPOCRISIA TECNOCRÁTICA DE DOMBROVSKIS




(Mas haverá alguém que alimente alguma esperança europeia focando-se na patética hipocrisia tecnocrática do Vice-Presidente Dombrovskis?)

A conferência de imprensa do Vice-Presidente Dombrovskis hoje realizada em Bruxelas, embora não explicitamente assumida como tal, destinou-se claramente a sacudir o aperto que, por linhas tortas, a comissão de inquérito do BANIF está a colocar sobre a Comissão Europeia. A máxima insistente com que o Vice-Presidente Dombrovskis pretendeu afastar responsabilidades, “a Comissão não impõe soluções sobre bancos em dificuldades”, simboliza perfeitamente a hipocrisia que grassa pelos corredores das instâncias comunitárias. À medida que se vão conhecendo, a conta-gotas, os meandros da decisão que conduziu à resolução do BANIF, mais se confirma o desmando europeu e sobretudo o projeto ideológico que se esconde por detrás das referências aos tratados e regulamentos, zelosamente invocados por funcionários e políticos europeus, cada qual o mais cinzento.

Ao mesmo tempo que Dombrovskis procurava tapar o céu como uma peneira, outros serviços da Comissão insistiam na ideia do empobrecimento global da sociedade portuguesa como modo de fazer respeitar os mesmos tratados, tanto mais infame quanto se sabe que a economia mundial e europeia se encontram face a ameaças de estagnação, com os ritmos de crescimento económico a serem revistos em baixa. A Comissão Europeia está transformada num funil de alternativas democráticas, sem mandato democrático para tal e sem fundamentação económica para o justificar, alterando completamente as condições de alternância política que o jogo e barganha democráticos deveriam proporcionar.

Por cá, a Comissão de Inquérito está a transformar-se num espaço de querela política permanente, contribuindo muito pouco para o esclarecimento público que o caso exigiria. E espanta-me que fiquem coisas no ar, sem que os deputados presentes se esforcem por evitar tais situações. Um exemplo paradigmático desta indefinição aconteceu com a audição do Governador do Banco de Portugal. Como previa, Carlos Costa utilizou os seus deveres estatutários no âmbito do Sistema Europeu de Bancos Nacionais para justificar a sua comunicação ao BCE da proposta de limitação do acesso a financiamento do BANIF e esses mesmos deveres para o comunicar ao Governo apenas após a decisão tomada pelo BCE (mais gravosa do que a solicitada pelo Governador). Confrontado com esta argumentação do governador, o ministro das Finanças reiterou a acusação de falha de informação, embora tivesse objetivamente deixado cair o adjetivo grave. O argumento foi o de que estavam em jogo questões não apenas de política monetária (sobre as quais o Governador estaria impedido de comunicar previamente ao Governo), mas de outra natureza e por isso a regra do sigilo prévio não se aplicaria. Alguém confrontou o ministro com esta argumentação? Mas que questões de outra natureza eram essas? Por sua vez, o Governador invocou que talvez se tratasse de um mal-entendido. Estaria o Governador a sugerir que quando o secretário de Estado Mourinho Félix avançou com a acusação de falha de informação grave não estaria informado sobre as regras de comportamento a que o governador está sujeito no âmbito do seu relacionamento com o BCE?

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