(El Roto)
Pouco tempo para o blogue num fim de semana marcado por logística familiar e pela utilização do
pouco tempo disponível para trabalhar num working paper para a Faculdade de
Economia do Porto, com os colegas Pilar, Luís e Hugo que pretende ir algo mais
além do que está em vias de publicação na Edward Elgar (já publicado pela OIT/ILO)
sobre o tema do efeito da crise sobre os “middle-income
groups” em Portugal.
O congresso do PSD e as tentativas da “saia e casaco” Cristas
para se afirmar no firmamento da oposição portuguesa implicam seguramente
alguma reflexão sobre o tipo de oposição que se vai fazendo à direita do PS e do
acordo parlamentar de suporte ao governo.
Há certamente diferenças entre o estilo de oposição de
Passos e Cristas e certamente em reflexão futura ocupar-me-ei dessa matéria. Mas
descontando essas diferenças que ficam para outras núpcias de reflexão, a
direita parece reduzida a dois grupos de argumentos, que interagem entre si mas
que vale a pena diferenciar. Eles podem resumir-se em duas interrogações que
ouvimos sem fim ser declaradas mais ou menos convictamente pelos personagens a
quem cabe o ónus de dizer alguma coisa para assinalar a existência: interrogação
nº 1 – como é que as soluções propostas vão passar no Eurogrupo?, com várias
declinações uma das quais é a da questão do plano B; interrogação nº2 – onde é
que está o dinheiro para financiar tais propostas?
É verdade que a cartilha do PSD usa mais frequentemente
este estilo de argumentação. O CDS de Cristas usa-as menos mas não as renega,
embora evolua mais em círculos largos de que a proposta de revisão constitucional
é um dos elementos mais salientes. Temos de convir que se trata de um conteúdo
de oposição que designaria de oposição exógena, sobretudo na colagem às posições
mais que discutíveis do Eurogrupo. Mas ambas refletem qualquer perspetiva nova
para além de uma situação de ajustamento que PSD e CDS bem representaram ao assumirem
o estatuto de seguidores acríticos. A contradição parece óbvia. Uma de duas. Ou
a direita acha que o tão badalado regresso aos mercados justifica o preço
elevado que foi pago e que tudo agora pode começar de novo. Se assim é deveriam
propor aos portugueses a maneira para começar de novo e não escudarem-se nas
posições intransigentes do Eurogrupo. Ou então terão de admitir que o problema
central da economia portuguesa é ainda de ajustamento penoso e isso equivalerá
a admitir a derrota de termos pago um preço demasiado elevado para voltar tudo à
estaca zero, ao clima de ajustamento permanente.
A esta colagem da oposição às teses do Eurogrupo, ele próprio
confrontado com a evidência sólida de que a sua abordagem falhou e que é responsável
entre outros pela estagnação da economia mundial, parece responder o governo com
alguma capacidade de inventiva negocial, fazendo jus ao cardápio de competências
reconhecidas a António Costa, mas parco também em sentido portador de futuro. O
regresso ao modelo da política subsumida em Power Points que a apresentação do
Programa Nacional de Reformas parece querer representar. Não creio que o conteúdo
apresentado deva suscitar arremetida tão virulenta como a que Manuel Carvalho
hoje realiza na sua crónica no Público. Mas teria ficado bem ao Governo
evidenciar na apresentação aquilo que a sua versão do PNR representa de marca
diferenciadora face ao PNR apresentado pelo anterior Governo para discussão do
Acordo de Parceria que conduziu ao Portugal 2020. Na minha leitura, penso que há
apenas duas áreas sensíveis em que se nota a marca do atual governo: o relevo dado
à formação de adultos e as propostas de capitalização das empresas portuguesas
para combater a sua extrema dependência bancária e baixíssimo grau de autonomia
financeira.
Parece pouco e uma explicação devia ser dada para esse
pouco. E já agora duas áreas que me sabem também a pouco pelo facto de não se
vislumbrar nada de significativo no horizonte nessas matérias. Primeiro, um governo
que se bate tanto por uma companhia de bandeira como a TAP não apresenta rigorosamente
nada sobre a valorização da língua. Segundo, continua a ser parco o discurso
político do governo quanto à preparação de um horizonte para o investimento
privado, apesar da novidade que as propostas para a capitalização das empresas
representam.
A curteza do discurso político da oposição e a debilidade
do seu conteúdo parecem perigosamente interagir com o regresso do Power Point à
política.
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