segunda-feira, 4 de abril de 2016

DO PANAMÁ E NÃO SÃO CHAPÉUS …





O jornalismo de investigação de um conjunto relevante de jornais prestigiados tem pela frente provavelmente uma verdadeira mina de oportunidades para pressionar de vez o G20 e a cúpula da economia mundial a darem o exemplo, moralizando a indecente maneira como uma parte significativa do dinheiro mundial escapa a qualquer controlo fiscal. Os “Panamá Papers” constituem uma daquelas oportunidades aparentemente inexplicáveis e estou cheio de curiosidade para perceber como se gera uma fuga de informação deste calibre.

Carlos Pimenta, meu colega da FEP, associado à feliz ideia de centrar na Escola o Observatório de Economia e Gestão da Fraude (OBEGEF), assinalava hoje na Antena 1 cedo, pela manhã, o trágico absurdo de estarmos perante situações de fraude fiscal declarada que utilizam recursos a mecanismos e processos que não são propriamente ilegais, antes consentidos por legislações nacionais que se recusam a perceber que se trata de instrumentos que, embora legais,  branqueiam e ajudam a ocultar uma série de ilegalidades e de financiamentos ocultos.

Considero-me leigo na matéria e sem imaginação capaz de compreender a complexidade de tais utilizações e dos emaranhados que um material desta natureza deve encerrar. Mas seguramente que o impacto dos Panamá Papers vai estar muito para além da sua divulgação e da multiplicação de relatos e revelações que irão suceder-se nos próximos tempos. Parece-me que o principal impacto estará no desenvolvimento da investigação jornalística que o material irá determinar e também no modo que as legislações e políticas nacionais e as grandes organizações de arquitetura da economia mundial irão fazer para não ficarem isoladas e comprometidas. Talvez venha a predominar a máxima de que é preciso que alguma coisa mexa para poder ficar tudo na mesma e isso vai esclarecer em que medida o poder político mundial é ou não, hoje, refém dos meandros do dinheiro e dos tentáculos que o estruturam. Ou então talvez os acontecimentos se precipitem, sobretudo se a investigação jornalística conseguir resultados palpáveis nos espaços nacionais dos quais foram identificados personagens e protagonistas.

Ou muito me engano ou a canhestra investigação dos crimes económicos que se faz em Portugal e os tribunais de investigação criminal estarão à espera que estas revelações lhes tragam à mão pistas para desvendar os novelos de informação e de suposições em que estão enredados pelo menos em alguns processos. Há também aqui a curiosidade de saber se lhes vai sair a sorte grande ou se vão a continuar a penar entre montanhas de papéis .

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