O jornalismo de investigação de um conjunto relevante de
jornais prestigiados tem pela frente provavelmente uma verdadeira mina de
oportunidades para pressionar de vez o G20 e a cúpula da economia mundial a darem
o exemplo, moralizando a indecente maneira como uma parte significativa do
dinheiro mundial escapa a qualquer controlo fiscal. Os “Panamá Papers” constituem
uma daquelas oportunidades aparentemente inexplicáveis e estou cheio de curiosidade
para perceber como se gera uma fuga de informação deste calibre.
Carlos Pimenta, meu colega da FEP, associado à feliz
ideia de centrar na Escola o Observatório de Economia e Gestão da Fraude (OBEGEF),
assinalava hoje na Antena 1 cedo, pela manhã, o trágico absurdo de estarmos
perante situações de fraude fiscal declarada que utilizam recursos a mecanismos
e processos que não são propriamente ilegais, antes consentidos por legislações
nacionais que se recusam a perceber que se trata de instrumentos que, embora
legais, branqueiam e ajudam a ocultar
uma série de ilegalidades e de financiamentos ocultos.
Considero-me leigo na matéria e sem imaginação capaz de
compreender a complexidade de tais utilizações e dos emaranhados que um
material desta natureza deve encerrar. Mas seguramente que o impacto dos Panamá
Papers vai estar muito para além da sua divulgação e da multiplicação de relatos
e revelações que irão suceder-se nos próximos tempos. Parece-me que o principal
impacto estará no desenvolvimento da investigação jornalística que o material
irá determinar e também no modo que as legislações e políticas nacionais e as grandes
organizações de arquitetura da economia mundial irão fazer para não ficarem isoladas
e comprometidas. Talvez venha a predominar a máxima de que é preciso que alguma
coisa mexa para poder ficar tudo na mesma e isso vai esclarecer em que medida o
poder político mundial é ou não, hoje, refém dos meandros do dinheiro e dos tentáculos
que o estruturam. Ou então talvez os acontecimentos se precipitem, sobretudo se
a investigação jornalística conseguir resultados palpáveis nos espaços
nacionais dos quais foram identificados personagens e protagonistas.
Ou muito me engano ou a canhestra investigação dos crimes
económicos que se faz em Portugal e os tribunais de investigação criminal estarão
à espera que estas revelações lhes tragam à mão pistas para desvendar os
novelos de informação e de suposições em que estão enredados pelo menos em
alguns processos. Há também aqui a curiosidade de saber se lhes vai sair a
sorte grande ou se vão a continuar a penar entre montanhas de papéis .
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