A região do Cáucaso constitui para mim, por defeito próprio naturalmente, uma grande nebulosa. No entanto, ela representa também uma fonte enorme de motivos de atração, atração essa que tem especial expressão nos múltiplos meandros da sua história (destaco a trágica e intrincada questão do genocídio turco) e que ganhou novos contornos após diversas leituras biográficas que fiz sobre Calouste Gulbenkian (que era de origem arménia e teve incursões vivenciais relevantes na zona) mas uma atração que é notoriamente liderada no meu imaginário pela cidade de Baku – não de todo por ser a cidade-berço de Isabel dos Santos mas pelas diferentes marcas desenvolvimentistas que nela ainda persistem na decorrência do seu papel central no boom petrolífero de meados do século XIX. Tenho também plena consciência da encruzilhada geopolítica que atravessa a frequentemente chamada Transcaucásia e domina as três nações que dela são parte (Arménia, Azerbeijão e Geórgia), sobretudo na medida em que as mesmas vivem cercadas por três gigantes protagonistas políticos à escala mundial (Rússia, Turquia e Irão).
A razão deste post está associada a uma notícia destes dias, por cá sempre de pé de página, que chamava a atenção para um aparente recrudescimento de conflitos militares entre azeris e arménios na disputada área de Nagorno-Karabakh (sudoeste do Azerbeijão – ver mapa acima). Mesmo quem desconheça detalhes precisos não duvidará da complexidade dos problemas historicamente surgidos na região em geral e no dito enclave em particular (por onde secularmente passaram diversos impérios e onde o regime soviético viria a exercer uma estranha e sinuosa política – veja-se, ilustrativamente, a definição como azeri do enclave de Nakhichevan, localizado no sudoeste da Arménia e geograficamente muito distante do Azerbeijão). Em tempos de desagregação da União Soviética, a região viria a ser sede de uma conflagração armada violenta, que chegou a incluir alegações de limpeza étnica, entre 1988 e 1994; refira-se, porém, que o cessar-fogo entretanto declarado nunca foi totalmente efetivo, uma vez que sempre foram sendo dadas recorrentes notas de várias escaramuças fronteiriças entre as duas musculadas democracias em presença. Segundo os especialistas, a novidade desta vez parece estar do lado da acrescida gravidade dos riscos que potencialmente impendem sobre a estabilidade regional, designadamente pela probabilidade de os envolvimentos se tornarem abertamente extensíveis a dois países cujas relações não estão no seu melhor: a Rússia (que até tem uma base militar na Arménia) e a Turquia (que ostenta fortes laços com o Azerbeijão). Só aparentemente menor, portanto, este foco de tensão é mais um a que se impõe que prestemos a devida atenção...
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