Prossigo a minha inventariação de base panamiana com um quarto aspeto: o regresso da pequena Islândia (pouco mais de 320 mil habitantes) e dos ensinamentos que a mesma tem vindo a dar ao mundo à medida que vai sendo tocada pelas malabarices reveladas em conexão com as sucessivas manifestações da crise desse desregulado processo de globalização financeira. A presença entre os identificados detentores de contas offshore no Panamá do seu primeiro-ministro, Sigmundur Davíð Gunnlaugsson, gerou mais uma vez um notável abalo cívico que não cessa de crescer e depressa conduziu o político em causa à demissão (124 mil pessoas assinaram a respetiva petição!). O reverso da medalha é que os cidadãos também se fartam, como decorre das sondagens – veja-se, em especial, o peso detido pelos inconsequentes “Piratas”, que já vão em 43% (contra os 5,1% de 2013) e ganharam quase 5 pontos percentuais em menos de um mês.
(Bob Moran, http://www.telegraph.co.uk)
(Dave Brown, http://www.independent.co.uk)
(Chris Riddell, http://www.guardian.co.uk)
Em quinto lugar, uma espécie de lei de Murphy que parece em vias de funcionamento e nos chega do Reino Unido: então não é que, agora que parecia finalmente ter adotado uma linha justa (a da recusa do Brexit e, com ela, de uma perigosa desagregação europeia), Dave se deixou enredar numa pouco dignificante deriva de inverdades que muito poderá contribuir para que o referendo britânico acabe por desembocar num duvidoso leave?
Termino com uma sexta e breve referência aos portugueses já reconhecidamente dados como presentes nos ficheiros acedidos. Apenas para sublinhar, por ora sem mais comentários, as diferenças de reação observadas entre eles: Manuel Vilarinho confirmou tudo (“Pois é claro que o meu nome aparece nos Papéis do Panamá, eu sei que estou lá, sabe o Ministério Público e sabe o país todo”), acrescentando não ter rabos-de-palha e não deixando até de ir mais adiante (“Cometi um pecado que está do DCIAP”). Luís Portela declarou com a candura espiritual que se lhe reconhece que “é público que a Bial tem uma filial no Panamá que coordena toda a atividade do grupo na América Latina”, embora tentando negar qualquer relação entre isso e a titularidade de uma offshores (“Nem eu, nem a Bial temos qualquer offshore”). Ilídio Pinho (IP) foi absolutamente perentório na sua recusa de qualquer envolvimento na matéria (“Durante toda a vida efetuei milhares de negócios e não tenho nem nunca tive contas no Panamá”), mas não foi por isso que deixou de se tornar aquele que seria mais rapidamente desmentido – o último “Expresso Diário” apresenta “a offshore que Ilídio Pinho disse não ter”, com os respetivos documentos comprovativos, a assinatura do empresário e a menção de que a sua utilização se processaria em estreita ligação com as atividades da fundação criada por IP. Espera-se com alguma expectativa o que ainda poderá estar para vir...
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