quarta-feira, 6 de abril de 2016

A OPACIDADE DAS PAREDES DE VIDRO





A vinheta de El Roto é talvez a melhor metáfora que conheço para caracterizar o universo que rodeia os “Panama Papers”. Na cidade do Panamá brotam, o terreno é fértil, a um ritmo impressionante arranha-céus em urbanizações sucessivas e galopantes. Jon Lee Anderson na New Yorker digital de hoje sublinha que é comum poder observar-se que em muitos desses edifícios de paredes de vidro o número de andares vazios é muito alto. Grande parte dessas unidades foram compradas para albergar empresas fantasmas, manejadas à distância, como simples forma de purificar dinheiro fedorento. A força dos offshores é a sua capacidade de ocultação. A cultura de atratividade do negócio como o do Panamá assenta na capacidade de atrair, receber e não pedir contas. O culto da invisibilidade é a alma do negócio e a sua defesa última. A experiência mostra que quando um paraíso fiscal deixa de ter essa função e não permitir nichos ocultos para a localização fiscal ele deixa de ter sentido e deve procurar outro rumo. Chamo-lhe os territórios da dissimulação e do encobrimento e esse estatuto de dissimulação é bem mais importante do que o modelo Singapura-Roterdão que algumas vozes procuram atribuir à cidade do Panamá.

A breve crónica de Lee Anderson mostra como a cidade gira em torno dessa capacidade de guardar o anonimato e de não colocar interrogações sobre a origem do dinheiro.

É deliciosa a história verídica de que Erhard Mossack, pai de Jϋrgen Mossack, um dos principais acionistas da Mossack Fonseca, é um ex-oficial das SS alemãs, imigrado para o Panamá após a Segunda Guerra Mundial. A atratividade do anonimato, pura e simples, como segredo de negócio.

Finalmente, John Cassidy também na New Yorker vem sossegar aqueles que viram no desencadear da revelação uma manobra americana, já que não constavam nomes americanos das listas que foram sendo reveladas. Para além de discutir razões objetivas que podem justificar a menor presença no Panamá de americanos, Cassidy revela que as investigações em curso vão revelar nomes e não serão residuais.

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