A vinheta de El Roto é talvez a melhor metáfora que conheço
para caracterizar o universo que rodeia os “Panama
Papers”. Na cidade do Panamá brotam, o terreno é fértil, a um ritmo
impressionante arranha-céus em urbanizações sucessivas e galopantes. Jon Lee Anderson na New Yorker digital de hoje sublinha que é comum poder observar-se que
em muitos desses edifícios de paredes de vidro o número de andares vazios é muito
alto. Grande parte dessas unidades foram compradas para albergar empresas
fantasmas, manejadas à distância, como simples forma de purificar dinheiro
fedorento. A força dos offshores é a
sua capacidade de ocultação. A cultura de atratividade do negócio como o do Panamá
assenta na capacidade de atrair, receber e não pedir contas. O culto da
invisibilidade é a alma do negócio e a sua defesa última. A experiência mostra
que quando um paraíso fiscal deixa de ter essa função e não permitir nichos
ocultos para a localização fiscal ele deixa de ter sentido e deve procurar outro
rumo. Chamo-lhe os territórios da dissimulação e do encobrimento e esse
estatuto de dissimulação é bem mais importante do que o modelo Singapura-Roterdão
que algumas vozes procuram atribuir à cidade do Panamá.
A breve crónica de Lee Anderson mostra como a cidade gira
em torno dessa capacidade de guardar o anonimato e de não colocar interrogações
sobre a origem do dinheiro.
É deliciosa a história verídica de que Erhard Mossack, pai
de Jϋrgen Mossack, um dos principais acionistas da Mossack Fonseca, é um
ex-oficial das SS alemãs, imigrado para o Panamá após a Segunda Guerra Mundial.
A atratividade do anonimato, pura e simples, como segredo de negócio.
Finalmente, John Cassidy também na New Yorker vem
sossegar aqueles que viram no desencadear da revelação uma manobra americana, já
que não constavam nomes americanos das listas que foram sendo reveladas. Para
além de discutir razões objetivas que podem justificar a menor presença no
Panamá de americanos, Cassidy revela que as investigações em curso vão revelar nomes
e não serão residuais.
Sem comentários:
Enviar um comentário