quinta-feira, 7 de abril de 2016

O CARROCEIRO DA CULTURA




(Erro de casting ou simplesmente incompetente, ou muito me engano ou a passagem do ministro João Soares pela cultura ainda vai sair cara a António Costa)

Não conheço suficientemente a realidade político-administrativa da cultura noutros países para me atrever a dizer que a situação portuguesa reproduz outras realidades. Mas não tenho dúvidas em dizer que muitos de nós estão profundamente cansados com as tribos culturais que rodeiam os poderes políticos. É só vê-los nas campanhas eleitorais, nacionais ou locais, e naqueles momentos de exposição e envolvimento para jornalista captar e para fazer passar pelo candidato o manto da cultura que fica sempre bem, como um quadro, tapete ou outro qualquer objeto artístico que se coloca no enquadramento certo para capturar um olhar acidental. Tudo isto é a outra face da medalha de um país efetivamente pouco culto e em que a dependência do orçamento de estado ou de qualquer mecenato tende a reduzir o espírito crítico e a independência de quem cria, pois a subcultura começa no modo como se financia e se controla o objeto financiado.

Não faço a mínima ideia sobre o teor de uma zanga ou conflito que parece existir há cerca de 16 anos entre o atual ministro da cultura e o jornalista e crítico de arte do Público e do Expresso Augusto M. Seabra. Desconheço também a que tribo cultural pertence este último e ora me revejo ou rejeito os seus escritos. Mas qualquer que seja a genealogia das inserções e relacionamentos do jornalista e crítico Augusto M. Seabra, ninguém lhe pode usurpar o direito de zurzir livremente na chamada de João Soares à cultura, na ausência de ideias estruturantes que parecem comandar o seu programa de atuação como ministro da Cultura e indiretamente na sua corte de apaniguados. Há sempre uma corte nestas coisas e compreende-se bem porquê. Imagino que o modelo de prática cultural de Soares estará nos antípodas da que Seabra transmite nos seus escritos. Ora, em ambiente de livre opinião, o que um ministro tem de fazer, independentemente do seu ideário cultural, é conviver com essa crítica e responder ou não, com decoro, às críticas que lhe são dirigidas, exigindo direito de resposta ou escolhendo outros órgãos de comunicação para o fazer.

Mas João Soares escolheu, mas que modernice para tal criatura, o Facebook para assumir o estatuto de ministro trauliteiro ou carroceiro, retomando a sua velha ameaça de espetar umas boas bofetadas na cara do franzino Seabra, partindo-lhe certamente alguns ossos da cara, senão todo o maxilar. O ministro insinuou mesmo que talvez tenha de passar a uma outra tática e não esperar por um encontro acidental (difícil de ocorrer dada as diferentes tribos em que se movimentam) e ir diretamente em busca do autor do desmando.

O ministro João Soares, sobretudo depois da sua bandeira Jonas Savimbi se ter esfumado na tragédia da guerra angolana, aspira por um bom duelo e está decidido a procurar pelo inimigo certo para desenferrujar as armas de arremesso. As tribos culturais lisboetas devem regurgitar de entusiasmos para a luta e, como seria de esperar, à falta de melhor matéria para demonstrar que não se está com este Governo, a comunicação social está em polvorosa e até Ricardo Costa veio ao noticiário das 13 da SIC apontar o dedo ao inqualificável ato de João Soares e à sua incapacidade de convivência com a crítica democrática e livre de opinião.

O submundo das tribos culturais no seu esplendor e um ministro fora do seu tempo que se arrisca a ser um erro de casting com riscos de perturbação de toda a companhia. The show must not go on.

P.S. Vasco Pulido Valente está também na alçada furibunda do ministro Soares, também em torno de uma crónica centrada na demissão para o espetáculo do Presidente do CCB, mas aí tamanha foi a algazarra contra a arrogante e desbocada decisão de Soares que os candidatos a duelo serão em número não acomodável pela bolsa respetiva. Apertado vá lá saber-se por que fontes, o ministro ao fim da tarde parecia já ter esmorecido nos seus propósitos de tirar desforra.

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