(Erro de casting
ou simplesmente incompetente, ou muito me engano ou a passagem do ministro João Soares pela
cultura ainda vai sair cara a António Costa)
Não conheço suficientemente a realidade
político-administrativa da cultura noutros países para me atrever a dizer que a
situação portuguesa reproduz outras realidades. Mas não tenho dúvidas em dizer
que muitos de nós estão profundamente cansados com as tribos culturais que
rodeiam os poderes políticos. É só vê-los nas campanhas eleitorais, nacionais
ou locais, e naqueles momentos de exposição e envolvimento para jornalista
captar e para fazer passar pelo candidato o manto da cultura que fica sempre
bem, como um quadro, tapete ou outro qualquer objeto artístico que se coloca no
enquadramento certo para capturar um olhar acidental.
Tudo isto é a outra face da medalha de um país efetivamente pouco culto e em
que a dependência do orçamento de estado ou de qualquer mecenato tende a
reduzir o espírito crítico e a independência de quem cria, pois a subcultura
começa no modo como se financia e se controla o objeto financiado.
Não faço a mínima ideia sobre o teor de uma zanga ou
conflito que parece existir há cerca de 16 anos entre o atual ministro da
cultura e o jornalista e crítico de arte do Público e do Expresso Augusto M.
Seabra. Desconheço também a que tribo cultural pertence este último e ora me
revejo ou rejeito os seus escritos. Mas qualquer que seja a genealogia das
inserções e relacionamentos do jornalista e crítico Augusto M. Seabra, ninguém
lhe pode usurpar o direito de zurzir livremente na chamada de João Soares à
cultura, na ausência de ideias estruturantes que parecem comandar o seu
programa de atuação como ministro da Cultura e indiretamente na sua corte de
apaniguados. Há sempre uma corte nestas coisas e compreende-se bem porquê.
Imagino que o modelo de prática cultural de Soares estará nos antípodas da que
Seabra transmite nos seus escritos. Ora, em ambiente de livre opinião, o que um
ministro tem de fazer, independentemente do seu ideário cultural, é conviver
com essa crítica e responder ou não, com decoro, às críticas que lhe são
dirigidas, exigindo direito de resposta ou escolhendo outros órgãos de
comunicação para o fazer.
Mas João Soares escolheu, mas que modernice para tal
criatura, o Facebook para assumir o estatuto de ministro trauliteiro ou
carroceiro, retomando a sua velha ameaça de espetar umas boas bofetadas na cara
do franzino Seabra, partindo-lhe certamente alguns ossos da cara, senão todo o
maxilar. O ministro insinuou mesmo que talvez tenha de passar a uma outra
tática e não esperar por um encontro acidental (difícil de ocorrer dada as
diferentes tribos em que se movimentam) e ir diretamente em busca do autor do
desmando.
O ministro João Soares, sobretudo depois da sua bandeira
Jonas Savimbi se ter esfumado na tragédia da guerra angolana, aspira por um bom
duelo e está decidido a procurar pelo inimigo certo para desenferrujar as armas
de arremesso. As tribos culturais lisboetas devem regurgitar de entusiasmos
para a luta e, como seria de esperar, à falta de melhor matéria para demonstrar
que não se está com este Governo, a comunicação social está em polvorosa e até
Ricardo Costa veio ao noticiário das 13 da SIC apontar o dedo ao inqualificável
ato de João Soares e à sua incapacidade de convivência com a crítica
democrática e livre de opinião.
O submundo das tribos culturais no seu esplendor e um
ministro fora do seu tempo que se arrisca a ser um erro de casting com riscos
de perturbação de toda a companhia. The show must not go on.
P.S. Vasco Pulido Valente está também na alçada furibunda
do ministro Soares, também em torno de uma crónica centrada na demissão para o espetáculo do
Presidente do CCB, mas aí tamanha foi a algazarra contra a arrogante e
desbocada decisão de Soares que os candidatos a duelo serão em número não
acomodável pela bolsa respetiva. Apertado vá lá saber-se por que fontes, o ministro ao fim da tarde parecia já ter esmorecido nos seus propósitos de tirar desforra.
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