Continuando a ser, a larga distância, o melhor programa de debate político das televisões portuguesas, a Quadratura do Círculo tem andado algo morna ou menos picante nos últimos tempos. Mas nesta Quinta-Feira voltou ao mais alto nível, também por causa da “geometria opinativa invulgar” (citando o moderador) que nos trouxe.
O prato principal esteve numa análise centrada no Programa de Estabilidade 2016-2020, com António Lobo Xavier a caraterizá-lo como de consolidação orçamental e a referir estarmos assim perante uma situação política paradoxal e embaraçante em que é o PS a surgir como o partido em melhores condições para se apresentar como o executor dos objetivos contracionistas que o programa encerra e em que, sublinhou ainda, se detetam sinais de capacidade política e de coragem para enfrentar a mudança. Quanto a Jorge Coelho, lá fez ele o seu habitual papel de anti-herói intelectual, papel que sintetizaria na básica formulação da sua pergunta de arranque: queres tu ver que isto vai mesmo resultar?
Todavia, e como é norma, coube a José Pacheco Pereira (JPP) ir mais ao fundo das questões – declarando não acreditar que seja possível conciliar a receita europeia de estagnação (tal como aplicada pela Comissão Europeia e, sobretudo, pelo Eurogrupo e pelos seus líderes) com qualquer política de crescimento económico, ou seja, que as regras europeias são inconciliáveis com qualquer desenvolvimento sustentável em países como Portugal, JPP apontou assim o dedo ao seriíssimo problema estrutural que nos envolve (a braços como estamos com uma dívida de enorme dimensão e o constrangimento externamente imposto de uma obsessão pelas décimas do défice), uma situação que a diferente dinâmica política em curso desde a formação do atual Governo apenas vai conseguindo disfarçar mas não é obviamente capaz de solucionar. É o que me parece também...
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