Em 1998, um grupo de economistas liderado por Franco Modigliani
e em que pontificavam nomes como Jean Paul Fitoussi, Robert Solow e Paolo Sylos
Labini apresentaram um manifesto focado no problema do desemprego na Europa, no
qual denunciavam a ortodoxia macroeconómica europeia e os seus perniciosos
efeitos.
Biagio Bossone e Stefano Sylos Labini (creio que filho do
sábio Paolo Sylos Labini) recordam no VOX Eu esse manifesto, destacando três aspetos
cruciais suscitados por aqueles economistas e que a triste realidade europeia
tem confirmado como propostas ainda decisivas para o conserto dos cacos europeus.
Primeiro, a denúncia da canhestra aposta num estatuto do BCE que se esgota na
estabilidade dos preços, tanto mais que essa estabilidade é projetada para
situações de alta de preços e não de riscos deflacionários como os que estão em
cima da mesa. Segundo, a referência à dificuldade da política monetária influenciar
o nível de preços, sobretudo quando o mercado de trabalho está em baixa, com
desemprego de larga escala. Terceiro, a excessiva confiança na capacidade do
BCE de estimular o investimento, sem a companhia necessária da política fiscal,
inviabilizada pela ortodoxia de Maastricht.
A ortodoxia que determinou a dimensão económica dos
tratados europeus terá ocultado numa gaveta qualquer o manifesto de Modigliani,
Solow e outros grandes. Fê-lo na altura, convicta de que a macroeconomia real não
lhe pregaria a partida, ou seja esperando que essa macroeconomia real se encaixaria
nos limites da ortodoxia. Ou seja, que os riscos da deflação não emergiriam
como nuvens negras sobre o horizonte. Que a recuperação da crise de 2007-2008
fosse tão anémica ou se quiserem que a referida crise fosse tão impactante. Que
a política monetária fosse tão exposta à sua própria incapacidade de atingir a
economia real. Todos estes pressupostos falharam. Mas que a social-democracia e
os socialistas europeus se tivessem ajoelhado e fizessem orelhas moucas ao
alcance do Manifesto Modigliani diz bem da degradação e empobrecimento desse conjunto
de forças políticas.
Quase 20 anos depois do Manifesto, os seus princípios devem
constar de qualquer proposta de revisão do edifício europeu, antes que ele se
desfaça em cacos, que nem o mais apurado artífice conseguirá consertar.
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