Temia-se o pior nas eleições presidenciais chilenas que tiveram a sua segunda volta no passado Domingo. E o pior era um candidato forte, altamente reacionário e ostensivamente defensor de receitas económicas e políticas que tiveram o seu desgraçado tempo sob o comando de Pinochet e dos neoliberais provavelmente mais ortodoxos de sempre no exercício do poder (José Antonio Kast). No quadro em presença, o melhor era um inexperiente jovem de esquerda (Gabriel Boric), forjado nas lutas estudantis e sociais que varreram o país desde 2011 e que se apresentou candidato na liderança de uma ampla frente (estendida até ao Partido Comunista).
A vitória deste último promete muito pela renovação e rejuvenescimento que introduz na classe política, suscita algumas reticências pela amplitude demasiada das tendências doutrinárias que incorporam a sua base de apoio e justifica umas boas figas pela oportunidade hoje já manifestamente imperdível de um reencontro da esquerda latino-americana com o seu passado mais construtivo e, de algum modo, glorioso, um capital crescentemente delapido face aos erros históricos sucessivos (com cúmulo de atrocidades em algumas situações) que se foram vendo acontecer desde então naquelas paragens (da Argentina ao Brasil ou da Bolívia à Venezuela, para só citar os casos mais marcantes).
Será desta que o exemplo de uma governação de normalidade democrática à esquerda vai conseguir vingar naquele continente também eternamente adiado? É que o Chile já tinha prometido algo nesse sentido com Michelle Bachelet mas dececionou duas vezes (2006/2010 e 2014/2018), pese embora sem os lados trágicos que se observaram em paragens vizinhas. E também porque Salvador Allende, esteja lá onde estiver, já merece sorrir em nome dos bons destinos da sua pátria!
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