(Entre as filas hoje mais reduzidas do que noutros tempos para comprar o bolo-rei e aprendendo a agilizar o manuseamento das zaragatoas dos antigénicos nas narinas para verificar se está tudo em ordem para receber o que poderia chamar de consoada a tempo parcial, aqui estou em contagem decrescente para mais uma ainda não canónica noite de Natal. O tempo chuvoso e sombrio também não ajuda à alegria de outros tempos e os mais velhos não podem deixar de interrogar-se se o que hoje nos atormenta não será uma nova normalidade ou se pelo contrário haverá ainda tempo para reviver sensações de mobilidade e de aproximação dos outros …)
A calendarização da geometria variável das famílias apontava que este ano fosse de reunião de toda a família mais próxima (relativamente pequena na linha do que vai acontecendo demograficamente aos portugueses), operando a pouco frequente reunião ao longo do ano dos quatro netos, filhos e noras. Mas o nosso vocabulário e breviário de costumes têm para já enraizadas palavras como quarentenas, zaragatoas, antigénicos, intervalos de dez dias. Com as zaragatoas podemos nós bem, já com as quarentenas indiretas são o que mais frustrante acontece por estes dias. Um colega de escola positivo da mais nova e aguerrida Catarina determina uma quarentena escolar e lá se foi a possibilidade de nesta noite ter os quatro netos reunidos, naquele ambiente de excitação natural que se vai amortecendo nas nossas memórias. Tenho vários relatos em círculos próximos de acontecimentos similares, o que só evidencia que lá vamos de novo numa onda de R(t) e de incidências em crescendo.
Dizem alguns que é Natal quando a gente quiser. Não estou muito nessa linha. O Natal não é algo que se possa gravar numa box para visualização e gozo futuros. Será assim uma consoada parcelar, que viveremos com a maior abertura de espírito possível, reservando para uns dias depois a sensação do reencontro. Sim, a imagem que tenho do Natal é marcada pela mobilidade e reencontros, no ambiente único de uma sala e de uma mesa, hoje tão arejadas quanto o possível como mandam as regras sanitárias.
Do ponto de vista político, caminhamos para uma das mais estranhas campanhas eleitorais da nossa democracia, em que muito provavelmente o contexto em que vai ser realizada será mais determinante do que o conteúdo das propostas e das ideias em confronto.
Neste contexto incomum, não tenho pachorra este ano para aquele exercício que considero estéril de sistematizar o melhor e o pior.
Para o ano há mais.
Feliz Natal a todos os bondosos e bem-intencionados deste mundo, particularmente aos leitores assíduos deste espaço reflexivo que se tornou para nós depois de tantos anos de escrita uma espécie de atividade respiratória necessária à sobrevivência e ao equilíbrio mental, com máscara por estes tempos.
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