(Já por repetidas vezes expressei aqui neste espaço a minha ideia de que a política em Portugal tem pouco sal, é morna, muitas vezes aborrecida. Há várias explicações para tal, que teremos de ir buscar às características dominantes entre os Portugueses que precisam de muitos estímulos para aquecer emoções. Mas tenho para mim que uma das razões para tal ambiente asséptico se deve à ainda reduzida presença na política da Mulher, pelo que de emotividade, sensibilidade, inteligência emocional, vivacidade ela representa, o que não significa maior governabilidade. Em contraponto com esta realidade, compreende-se o meu interesse pela política espanhola, onde há mais sal e emoção e onde é recorrente a agitação das águas pela presença da inteligência emocional das mulheres na política. E não poderíamos ter melhor contexto para essa evidência do que o que marca presentemente a política espanhola.)
Quando hoje pensava no tema para superar o desafio do écran em branco, a fotografia que abre este post fulminou-me. E aqui estou eu de novo a falar do furacão Isabel Diaz Ayuso e o contexto é apetecível.
O PP espanhol e a política em Madrid estão neste momento a braços com um triângulo de eleição, não um triângulo amoroso que faria as delícias das revistas e programas cor de rosa e do “socialite” que se multiplicam na imprensa e televisão espanholas (com relevo para a TV5), mas um triângulo marcado por ambições políticas cruzadas que tardam em harmonizar-se. Senão vejamos. Pablo Casado procura a afirmação do PP como alternativa à já desconjuntada solução Frankenstein que o PSOE e o PODEMOS urdiram, mas para isso debate-se com a sua própria afirmação interna e com o VOX a morder canelas. As sondagens não enganam neste caso. Para uma desconjuntada solução Frankenstein, o capital eleitoral nelas afirmado pelo PP mostra que o problema não está resolvido e que as próprias hostes da direita parecem não estar lá muito convencidas do poder dissuasor de Casado. Por outro lado, a impetuosa Diaz Ayuso que preside à Comunidade de Madrid depois de um golpe político-eleitoral de grande risco mas largamente eficaz, que meteu tudo, insubordinação pandémica e valorização da cultura da taberna madrilena, pretende presidir aos destinos do PP em Madrid, dizem as más línguas e os que pensam bem, pretendendo a prazo dirigir o PP. Finalmente, José Luís Almeida é o Alcalde de Madrid (município) e parecer ser o candidato que Casado aspiraria ter a dirigir o partido na Região.
Se olharmos com atenção para a imagem que abre este post, e apesar das máscaras que nos retiram a visão e interpretação de todo o fácies, o olhar simultaneamente sedutor, provocador e ameaçador de Ayuso é todo um tratado de significância dos olhares na política. Casado, apesar do seu tom jovial (muito na linha dos políticos espanhóis da geração Sánchez) e ainda relativamente jovem, é muito provavelmente um daqueles homens que lida e encaixa mal com o estilo feminino de Ayuso, evidenciando pouco à vontade e desenvoltura para um debate permanente com o estilo mais ousado e perturbante de Ayuso. E o pior é que se pressente de fora que Casado internalizou já essa incapacidade e por isso se refugia na frieza dos contactos com a impetuosidade Ayusiana. Neste tipo de contexto, o estilo de Almeida apaga-se naturalmente.
Toda esta triangulação foi amplamente visível na apresentação oficial do novo livro de Mariano Rajoy em Madrid, uma tentativa do tão apertado ex- Primeiro Ministro pelas incidências do caso Barcenas de criar algum cimento naquela interrogada triangulação, em que o PP apareceu em peso, como se pretendesse avaliar o pulso da situação atual.
E como evidência de que Casado está fadado para ter à perna mulheres insubmissas e impetuosas, os jornais espanhóis não se cansaram de estabelecer o confronto entre a ida em massa do PP à apresentação do livro de Rajoy e a ausência generalizada de figuras de proa na apresentação do livro de Caetana Álvarez de Toledo (XIV marquesa de Casa Fuerte), que já foi porta voz do PP e que tem mantido uma situação de desavinda com o PP, não o abandonando, depois de ter ganho o seu lugar no Congresso de Deputados eleita em Barcelona numa eleição em que o PP saiu de rastos.
A fotografia que fica para a história no final da sessão de Rajoy, em que o ex-Primeiro Ministro pede aos que estão no palco para que tirassem as máscaras, não conseguiu apesar da bonomia do galego quebrar a frieza provocada pela triangulação interrogada. Ou muito me engano ou essa frieza só será quebrada quando a impetuosidade de Ayuso se sobrepuser a tudo o resto. E aposto que ninguém será capaz de antecipar o fim desse turbilhão.
Como contraponto percorro imagens da política nacional e fico descoroçoado. Impetuosidade feminina nem vê-la. As Catarinas Martins e as Mortáguas da nossa política são autênticas meninas de coro, parecendo que provenientes dos colégios mais conservadores. As Marianas e as Anas Catarinas alinham pelo mesmo diapasão.
Mas que sensaboria e como nos faz falta a inteligência emocional feminina!
Nota final:
Fico satisfeito com a decisão da direita parlamentar espanhola ter recusado na sessão do Congresso de Deputados a atribuição à memória de Almudena Grandes do estatuto de Filha Predileta de Madrid com o que isso significaria em termos de realizações. Estou certo que a própria Almudena ficaria perturbada com o apoio do PP, Ciudadanos e VOX.
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