Dois meses e meio depois, com uma árdua negociação pelo meio (ou, talvez melhor, após um complexo e exigente acerto de posições políticas e programáticas), o novo chanceler Olaf Scholz tomou posse da chefia de um governo de coligação tripartidária que também simultaneamente apresentou e de que já aqui fomos falando (8 mulheres e 8 homens, destes sendo 5 “Verdes” e 4 “Liberais” e ou restantes “Social-Democratas”). Resta desejar-lhe sorte e algum engenho para que a Alemanha possa mudar o muito que precisa de mudar e a União Europeia possa beneficiar de uma Alemanha menos autocentrada e mais sinceramente valorizadora do espaço político-económico em que se insere e em que inequivocamente deve pontuar com inteligência estratégica e abrangência relacional.
O dado explícito mais novo foram as abertas declarações do novo ministro das Finanças (o “suspeito” líder liberal Christian Lindner), interpretadas como sinalizando a disponibilidade do seu país para uma revisão das atualmente suspensas regras europeias do Pacto de Estabilidade e Crescimento (ainda que num óbvio contexto de uma Zona Euro “comprometida com a ideia de estabilidade”, mas compatibilizada com a necessidade de pugnar por mais crescimento e investimento); um posicionamento que parece vir ao encontro de outros no mesmo sentido (como aconteceu com a vigorosa defesa por Draghi da sua “inevitabilidade” ― quer devido aos impactos pandémicos quer devido “aos desafios futuros da UE, desde a luta contra as mudanças climáticas às novas tecnologias e aos gigantescos investimentos em semicondutores” ― ou com a algo surpreendente afirmação de Klaus Regling, diretor-geral do Mecanismo de Estabilidade Europeu, de que o teto de 60 por cento constante do PEC em matéria do rácio da dívida pública em relação ao PIB "não é mais relevante" e deve ser aumentado “já não é relevante” e deveria ser aumentado). Mas não se esperem milagres de Lindner e dos seus apaniguados, aliás fortemente austeritários durante a passada crise das dívidas soberanas: até porque ele também deixou claro que resistiria a aumentos de impostos e a qualquer afrouxamento constitucional do travão da dívida alemã, assim como que “devemos evitar... [vir a ter na Zona Euro] uma dominância orçamental no futuro” que pese em excesso sobre aquela que é a ação primordial dos bancos centrais.
Note-se ainda que, agora sim em ultradefinitivo, Angela Merkel foi embora depois de dezasseis anos ao leme que já aqui avaliamos como essencialmente positivos mas não especialmente gloriosos em termos de visão geopolítica e europeia e por vezes algo contraditórios no tocante a dossiês determinantes. Mas, não obstante, Merkel ficará na História pelo seu inexcedível empenho e esforçado equilíbrio em múltiplos momentos alemães, europeus e mundiais em que a sua não presença teria dado certamente lugar a soluções ou caminhos piores.
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