segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

MANU E O CIRCO FRANCÊS

(Nicolas Vadot, http://www.levif.be

A minha costela afrancesada não resiste a que vá deitando os olhos com algum cuidado sobre o que nos chega de França, onde se disputarão eleições presidenciais em maio e onde assentará a Presidência Europeia a partir de 1 de janeiro de 2022. E o cenário é simultaneamente interessante e complexo, quando não potencialmente perigoso para os lados das hostes democráticas.

 

O presidente Emmanuel Macron, continuando a ser visto como o favorito, ainda procura afincadamente uma estratégia de abordagem para a sua recandidatura, após um mandato em que passou as passas do Algarve internamente (quem não se lembra das suas promessas de reformar o país viesse o que viesse e do modo como teve de meter a viola no saco perante contestações múltiplas como a prolongada crise dos gilets jaunes?) e num momento em que se tem de apresentar humilde perante os seus concidadãos (j’ai appris, dizia-lhes ele há dias), na frente externa, parece tentado a assumir um papel por que sempre ansiou de autoproclamado líder europeu.

(cartoon de Patrick Lamassoure, Monsieur Kakhttp://www.lopinion.fr)

Do lado dos seus putativos opositores, os últimos meses foram pródigos em surpresas de monta, designadamente: o surgimento de Éric Zemmour na área da extrema-direita, agitando espantalhos novos e fazendo tremer Marine Le Pen; os ziguezagues ocorridos na área da direita democrática, onde a certeza de Xavier Bertrand deu lugar a umas primárias renhidas e que contaram com a forte presença de Michel Barnier mas que se saldaram numa surpreendente disputa finalista em congresso entre um deputado direitista puro e duro (imigração zero e “Guantánamo à francesa” como grandes causas) chamado Éric Ciotti e a Presidente do Conselho Regional da Île-de-France, Valérie Pécresse, que terminou nomeada; as dificuldades à esquerda, entre as rivalidades no seio ecologista, os continuados tiros ao lado de Jean-Luc Mélenchon e Arnaud Montebourg e a interminável crise do PS (que pareceu terminar com a escolha de Anne Hidalgo, embora esta pareça agora ter de se confrontar com um processo de primárias à esquerda, dada a inerte modéstia das suas sondagens).




O momento presente conhece uma novidade imprevista: a muito significativa ascensão de Valérie Pécresse (cada vez mais apreciada e valorizada por qualidades ― rien-de-tel-qu'une-cheffe-pour-cheffer, escreveu um comentador experimentado ― até agora encobertas), tornando completamente indeterminada a segunda volta: será Macron contra a extrema-direita como tudo parecia indicar? Ou será Macron contra ela, deixando a extrema-direita de fora? Ou será ela contra a extrema-direita, deixando Macron humilhado? Os níveis de abstenção, estimados altíssimos, também terão uma palavra a dizer no desenlace, sendo que estes seis meses serão um thriller certamente digno de um acompanhamento de perto pelas voltas e reviravoltas que poderão surgir.


(Nicolas Vadot, http://www.levif.be) 


Nota final: vejam-se abaixo algumas das sondagens mais recentes, as quais confirmam grande parte da análise atrás feita e mostram, simultaneamente, grandes tendências em curso e quanto está ainda em aberto naquela que será seguramente a contenda do ano que vem na Europa e até no mundo.



(https://www.francetvinfo.fr)

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