quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

O DESABAFO DE LAURIE PENNY … QUE PODERIA SER O NOSSO!

 

(Laurie Penny é um nome que sugere David Lynch e os seus personagens estranhos e misteriosos. Mas não é, link aqui. É uma jornalista e escritora, que escreve regularmente no The Guardian e no New York Times, é editora da excelente New Statesman e é sobretudo conhecida pelos seus escritos feministas, podendo ser considerada uma personagem emergente na nova esquerda anglo-saxónica. Por isso, este texto sobre a deceção coletiva de mais um Natal em vigilância e ameaçado por mais uma letra do alfabeto grego que a jornalista assina na sua página do substack.com, link aqui, tem para mim um grande significado…)

O desabafo de Laurie Penny, assim poderíamos chamá-lo, poderia ser o nosso desabafo coletivo e não tenho pejo em assumi-lo como tal.

O texto chama-se “The Actual War on Christmas. Here we go again”.

Reproduzo aqui os primeiros parágrafos.

Bem, porra. Lá se vai outro Natal.

Estou a escrever a partir de Londres, onde a variante Omícron está absolutamente por todo o lado. Nestes últimos dias, a cidade está gradualmente a despovoar-se. A cafeteria a que vamos todas as manhãs estava praticamente vazia e entre nós – é um hub comunitário -  corre a notícia de que no fim do dia irá fechar. Toda a gente está doente ou conhece alguém que esteja doente. Tudo está abafado sob uma tocha através de um cobertor. Olhando para trás, quando um bando de incompetentes aristocratas nos prometeu que uma impressionante catástrofe global chegaria pelo Natal, poderíamos ter aprendido a não acreditar neles.

Mas todos precisávamos deste Natal. Precisávamos mesmo e esperámos tanto tempo.

Justamente quando estávamos a sentir que teríamos uma chance de celebrar, no meio de toda esta escuridão, era como se estivéssemos presos de volta ao início. Todos tinham os seus planos arruinados e cancelavam reuniões, encontros e viagens ansiadas e todas as ruas que se apresentavam frenéticas com luzes brilhantes nas janelas nas lojas e com o cheiro a graxa e a bebida e especiarias e esperança estão agora tão tristes e tão calmas. Temos de abdicar de outra das estações festivas em número finito à nossa disposição ao longo das nossas vidas. Ao menos que a variante Omícron pudesse ter esperado um mês. Mesmo três semanas. Ou até uma quinzena. Mesmo em cima do Natal?”

O texto prolonga-se com um conjunto de reflexões sobre os diferentes tipos de sacrifícios que o prolongamento pandémico gera nas sociedades, suscitando complexos problemas de justiça equitativa entre grupos etários, com risco de destruição de equilíbrios no tecido social e nas famílias, não ignorando que a doença é sempre mais grave do que a cura.

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