Um recente trabalho do FMI, tendo por coautor o nosso compatriota Vítor Gaspar (que sempre me pareceu melhor investigador do que político) e por base uma atualização da excelente base de dados da organização, elucida de modo interessante o estado atual da dívida global. Que estima ter atingido um quantum recorde de 226 biliões de dólares em 2020, um valor equivalente a 256% do PIB mundial (após uma variação anual igualmente recorde de 28 pontos percentuais em relação ao último ano pré-pandemia de 2019). Também relevante será constatar quão próximos se situam os níveis da dívida pública e da dívida empresarial privada (99% e 98% do PIB, respetivamente) e quão significativo não deixa também de ser o nível da dívida das famílias (58% do PIB); tudo somado, atenção à dívida pública e à sua explosão e falta de contenção, mas atenção similar a uma dívida privada total cuja dimensão ultrapassa a da pública (grosso modo, 60% versus 40%).
O quadro anterior contribui para uma adicional elucidação sobre a distribuição geográfica dessa mesma dívida global. Resultando muito evidente as diferenças entre países e suas grandes tipologias, com os mais desenvolvidos a dominarem largamente e os Estados Unidos a mostrarem-se os campeões do endividamento internacional (note-se a curiosidade de as variações no endividamento das economias ditas mais avançadas terem sido superiores durante a crise financeira de 2008/09 do que durante a crise pandémica); e com os países em desenvolvimento ou emergentes a conhecerem maiores dificuldades de acesso a financiamento mas a representarem, não obstante, percentagens menores do aumento da dívida global, constituindo a China um cada vez visível special case (representando recentemente mais de um quarto do aumento verificado na dívida global). Remeto os interessados em saber mais para as análises cuidadas que estão disponíveis no site e no blogue daquela instituição internacional.
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