Começaram ontem os debates eleitorais com um morno António Costa versus Rui Tavares e um palpitante André Ventura versus Catarina Martins. Não consigo ter uma ideia fundamentada quanto ao que valem realmente os debates, mas admito que eles permitam, no mínimo, que alguns de nós mais atentos aos detalhes em jogo possam perspetivar melhor as capacidades e os momentos político-pessoais em presença, bem como as estratégias eleitorais de fundo que os diversos protagonistas pretendem encarnar e a sua habilidade adaptativa perante os contornos táticos que conjunturalmente se lhes exigem.
O debate entre o homem que comanda o Chega e a coordenadora do Bloco de Esquerda foi, como tinha de ser, um diálogo de surdos. Como vários comentadores disseram, cada um deles falava para uma parte específica do eleitorado que nada tinha em comum com a do outro. Daí que não seja simples retirar de um debate desta natureza um vencedor e um vencido, como procuraram fazer ― a meu ver, desastradamente ― Ângela Silva e Pedro Marques Lopes na SIC-Notícias (com Ricardo Costa a procurar fazer, esforçadamente, algum contravapor). Porque, e insisto, se pretendermos analisar objetivamente o que os debates vão podendo revelar, importará mais valorizar a postura (calma e ponderada, no caso de Catarina; nervosa e provocatória, no caso de Ventura) do que a chamada “eficácia” (confundida com algum encanto jornalístico pelos meros ataques desbragados de Ventura, em contraste com a desatenção quanto a algum conteúdo discursivo por parte de Catarina).
Mas volto ao início. So what? Em termos pessoais, aquela quase meia-hora de troca de mimos ajudou-me a confirmar algumas certezas que suspeitava ajustadas em relação a cada um dos dois candidatos e que me escuso de reproduzir por mera redundância. Em termos mais gerais, e sobretudo no tocante ao eleitor médio, diria que a larga maioria não se deu ao trabalho de prestar atenção ao que ali se passava, preferindo a indigência de outros programas; e diria ainda que, quando não foi assim, talvez que os eleitores mais impreparados e propensos a aderir a discursos simplistas e populistas se tenham sentido mais atraídos/encantados em relação às banais inverdades de Ventura do que resultaram convencidos por Catarina os votantes à esquerda que não sejam eleitores fiéis do Bloco mas possam estar ou continuar retraídos sobre uma opção pelo PS. Ou seja, o debate de ontem deixou claro um paradoxo inultrapassável e bem elucidativo dos limites deste tipo de campanha mediaticamente dominada, com a agravante do condicionamento subsequente resultante de comentadores pouco esclarecidos e de responsabilidade limitada ou dotados de agendas próprias ou telecomandadas.
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