O que aconteceu ao “Expresso”, e em menor medida a outras entidades do Grupo Impresa, resultou de um ato inqualificável de terrorismo informático, seja em termos de ataque à liberdade em geral e à liberdade de imprensa em particular seja em termos de tentativa de destruição de fontes relevantes da nossa memória coletiva. Ao que vai sendo dito, a reação dos profissionais do jornal foi de uma entrega inexcedível no sentido de procurarem contribuir para recuperar o máximo do que foi atingido. E eles merecem por isso um aceno de especial simpatia, assim como todos os responsáveis do Grupo merecem a nossa mais sincera e incondicional solidariedade.
Neste quadro infeliz e seguramente traumático, a capa do último jornal, saído a 7 de janeiro, não deixa de merecer uma menção reprovadora. Chamar a primeira página e a notícia de maior destaque algo como “PS quer Estado a apoiar subida de salários no privado” releva de um primarismo próprio dos inúmeros pasquins que por aí pululam e não honra a tradição de seriedade e independência do “Expresso”. Porque, intitulada daquela maneira, a afirmação só pode ser alvo de discordância por parte de quem acredita numa sociedade em que a separação público-privado ainda tem um sentido não apenas funcional mas sobretudo coletivamente valorado. Claro que o PS ― e não é a defesa do partido que aqui me move ― veio prometer “créditos fiscais em IRC para empresas que aumentem trabalhadores”, mas o conteúdo de tal promessa tem uma dimensão de estímulo político (justa ou injusta, não importa) que não é confundível com a ideia coletivizante de um Estado a substituir-se às responsabilidades empresariais privadas. Interferir no processo eleitoral desta forma ardilosa não me parece de todo aceitável nem estar de acordo com os pergaminhos do “Expresso”.
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